Sente aí meu irmão É uma coisa rara de ver O ano é bom, muito bom Estou feliz podes crer
A história de Dinorah você encontra em: DINORACOMAGANOFIM: Muito Prazer! Dinoracomagánofim.



Dinorah

Dinorah

sábado, 14 de maio de 2011

Helga e a visita de Comadre Blonde.

Fui visitar a Helga. A casa estava toda aberta. Gargalhadas vinham da cozinha onde uma loira, alta, magra, muito bronzeada, com um vestido amarelo bandeira, falava alto e gesticulava. As duas riam muito e nem notaram a minha chegada. Sobre a mesa, caixas, caixinhas, vidros, vidrinhos, potinhos de todas as cores. Helga examinava com atenção e perguntava sobre os remédios. Estava encantada com um que parecia um disco voador roxo e lilás.
- Comadre que coisa mais linda este roxinho! E este prateado!
A Comadre se exibia com uma imensidão de remédios, explicando suas indicações. A gorducha examinava cada um como se fosse uma relíquia, senti certo olhar de inveja. Foi quando ela levantou, foi até o armário e lá de cima retirou uma enorme caixa plástica cor de laranja.
- Os meus estão aqui! – falou isto e exibiu com orgulho uma montoeira de remédios. Imediatamente a comadre parou de rir e reclamou:
- Ah! Assim não vale! Você tem mais remédios por que está em casa, eu estou viajando, por isto só trouxe os “básicos”!
Foi quando elas me viram. Helga saltou da cadeira correndo ao meu encontro.
- Dinorah, você não imagina que surpresa maravilhosa! Esta é a Comadre Blonde, ela e o marido vieram me visitar! – virando-se para a comadre, fez as apresentações – Comadre esta é minha amiga Dinorah! Ela é uma pessoa muito legal, pena que é um pouco deprimida – a comadre não deixou a Helga continuar. Abraçou-me, falou um muito prazer apressado, deu dois beijinhos e emendou:
- Dinorah, o que é que você toma para depressão? – não deu tempo para resposta, ela pegou uma caixinha com um nome estranho – eu tomo este aqui, é muito bom, dá um pouco de arritmia, mas então, para passar a “tremura” tomo este outro, que me dá um pouco de sono, para não ter tanto sono, tomo este outro... – e assim a Comadre Blonde enfiava um remédio atrás do outro, aquilo parecia um trem sem fim. Notei que os olhinhos da Helga brilhavam a cada novo remédio, todos coloridos como se fossem jujubas.
- Comadre, – interrompeu a gorducha – este negócio de remédio já está ficando chato! – estaria a Helga com ciúmes? A comadre estava com um estoque onde só havia lançamentos e a concorrência estava ficando desleal, para deixá-la mais enciumada comentei:
- Helga, quanta novidade! Você com seu estoque de Cafiaspirina, Maravilha Curativa, Olina, Bromil, emplastro poroso Sabiá, está um pouco ultrapassa. – a Comadre deu uma gargalhada que pôs as da Helga no chinelo, até os vizinhos do outro quarteirão devem ter ouvido.
Mudaram o rumo da conversa. Começaram a trocar elogios.
- Helga como você era chique! Lembro de você desfilando na Sete. Você usava saltos imensos, cabelos escovados cheios de brilho e movimento, uns óculos de sol maravilhosos! – a gorducha ouvia aquilo e fazia um biquinho com a boca, revirava os olhinhos e dizia:
- Ora comadre, não era tanto assim... – fazia-se de rogada, como se não estivesse gostando, mas estava estufada de tão faceira. – Você é que era chique. Sempre cheia de jóias, relógios, pulseiras. Nossa comadre! Como você era dourada e brilhante! – agora era a vez da comadre dizer que a chique não era ela. Assim elas seguiam se elogiando. Quando uma parava de elogiar a outra cada qual se auto elogiava
Enquanto as duas se perdiam em elogios, saí de fininho, nenhuma notou e se notou, não chamou. Naquela hora, existiam só as duas no mundo, cercadas das lembranças que desentocavam da memória.
- Lembra do aniversário de 50 anos do Conde? Como você estava chique Helga!
- Eu não Comadre, você é que estava elegante e bronzeada, como sempre. Aliás, o colar que você estava usando era um arraso!
As duas carinhosamente recordavam um tempo que não se sabe que fim levou. Vez que outra indagavam se tudo aquilo realmente aconteceu? Teriam existido aquelas lembranças todas? Bem poderiam ser um sonho. Aquela conversa mais parecia um delírio causado por uma overdose de gargalhadas. Ou, o sonho seria aquele encontro?
Ai meu Deus! Onde estará o remédio para acordar?


(ps.: obrigada pela visita Comadre! Foi muito emocionante.)

3 comentários:

  1. Adoro as histórias da Helga!
    Amiga, já dá pra colocar todas as histórias da helga em um livro.Pense nisso.

    lindo fim de semana pra ti minha amiga.

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  2. Dinorah, saudade, tive eu! Helga e a amiga nem sonham o quanto me senti só sem o meu blog!
    Dependência de fármacos? O que é isso ao pé da dependência de amigos?
    Os amigos são virtuais?
    Pois os remédios são placebos!
    Juro, juro que tive muita saudade, alguma angústia, mesmo, quando, no quarto do hotel ,não consegui ligar-me.
    Qual doente hipocondríaco, imaginei o pior, imaginei que um vírus informático letal me atacara, temi ter perdido as amigas queridas que, tal com haviam entrado na minha vida, assim sumiam! Sou latina, sou melodramática, nada a fazer para o impedir.
    Hoje, em casa, refeita do susto, e em plena recuperação da estafa ( o avião pratica horários absolutamente pornográficos...) nado nas mornas águas das rotinas recuperadas, dos reencontros, do apaziguamento.
    Beijos,
    Nina

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  3. Dinorah, lendo essa história, conheço muitas pessoas que tomam muito remédio, tem 103 tipos de enfermidade e contam isso com um certo orgulho, há até mesmo um tipo de competição pra ver quem é mais bichado. Eu, hein?

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