Sente aí meu irmão É uma coisa rara de ver O ano é bom, muito bom Estou feliz podes crer
A história de Dinorah você encontra em: DINORACOMAGANOFIM: Muito Prazer! Dinoracomagánofim.



Dinorah

Dinorah

segunda-feira, 20 de junho de 2011

HELGA E O SÃO JOÃO.

Enfim, havia conseguido acalmar a turba. Os alunos enfeitavam a sala de aula para São João. Recortavam bandeirolas e estavam relativamente sob controle. Ufa!

- Hu! Huuuuu! Dinoraaah?

Na janela, uma caipira de cara redonda com as bochechas pintadas de rouge e pintinhas pretas, enfiava a cabeça para dentro da sala. Chapéu de palha, trancinhas com laços de fita vermelha completavam o visual. Não acreditei que a criatura pudesse fazer uma brincadeira dessas comigo!

- Helga, o que é que você quer? Não vê que estou em aula?

- Então esta bagunça é aula é? - a gorducha deu uma gargalhada exibindo um dente pintado de preto. Quis morrer, mas era tarde demais, os alunos já haviam passado sobre as bandeirolas e estavam grudados na janela rindo da caipira.

- Silêncio! Voltem para os seus lugares! Helga, por favor, vá embora! - implorava, mas ninguém me ouvia.

- Posso ajudar fazendo balões! Aqui na sacola tenho um pacote de paçocas! - a exibida nem terminou de falar e o coro começou:

- Ah! Professora! Deixa ela entrar! Deixa ela entrar!

É hoje que perco o emprego! O que é que esta louca tinha que vir aqui? Não conseguia mais controlar os alunos. De repente Helga já estava na porta da sala de aula. Consegui me espantar mais um pouco. O ser humano usava um vestido de chita vermelho com imensas flores amarelas, meias listradas. Os alunos com as mãos cheias de paçoquinhas rodeavam a gorducha. Tive vontade de chorar, de bater, de lhe arrancar o dentão preto a tapa.

- Então meninada, vamos fazer balões! - o estrupício esparramou-se no chão com toda a criançada a sua volta. Parecia uma montanha florida cercada de gnomos. Ela dobrava o papel para cá e para lá, ensinado-os a fazer balões. Quando ficavam prontos, assopravam e os balões ficavam gordinhos. As crianças exultavam quando o balão enchia. Ficavam orgulhosos mostrando a sua obra de arte.

- Dona Helga! Olhe o meu!
- E o meu! - todos pulavam ao redor da metida que distribuía paçoquinhas a rodo.

O sinal tocou e ninguém se mexeu. Jogada em um canto como se não existisse, resolvi tomar uma atitude.

- Pessoal já deu o sinal, a aula terminou. Vamos embora!

- A senhora pode ir! Nós vamos ficar aqui com a Dona Helga! - dirigindo-se para a criatura, o aluno ingrato implorou - A senhora fica mais um pouco com a gente não é Dona Helga? - a gorducha, feliz da vida, com a boca cheia de paçoquinha deu um sorriso exibindo o dentão preto e se fazendo de sonsa falou:

- Se a professora Dinorah não se importar...

Era só o que me faltava! Perder meu emprego para esta caipira maluca.
- Podem ficar com a DONA HELGA seus ingratos! - enquanto arrumava minhas tranqueiras ouvi a enxerida dizer que iriam dançar. Não dei a mínima pelota, na saída lancei um olhar fulminante para a gorducha que saltitava numa quadrilha. Ignorando totalmente a minha ira, devolveu-me um sorrisinho debochado gritando:

-
Olha a cobra!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O AMULETO

Tarefa de casa:

Cada aluno deverá trazer, por escrito, uma simpatia, um ritual supersticioso, que as pessoas fazem no dia de Santo Antônio ou São João.

Todos trouxeram e leram suas simpatias. Em uma delas o aluno leu a palavra amuleto.


- Joãozinho - pergunta a professora - você sabe o que é amuleto?

- Sei sim! É aquilo que os véio usa quano tá mancano!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O presente de Helga

Estava fazendo compras no mercado e eis que me deparo com quem? A criatura mais sorridente, alegre e saltitante da face da terra. Ela, a gorducha Helga!
- Dinorah querida! Como é que você está? - ela não consegue esperar que eu faça qualquer gesto, muito menos abra a boca, fica fazendo um sinal com o queixo, apontando para debaixo de seu próprio braço. Não consigo entender o que quer dizer, apenas reparo que tem uma coisa preta debaixo do sovaco, será uma bíblia?
- O que é isto? Uma bíblia?
- Ai Dinorah! - a criatura bufa e olhando-me com um certo desprezo exclama - você não está vendo o que tenho debaixo do braço? Impossível! Você não conhece um Netbook?
- Um o quê? Eu conheço computador sim! Mas não tão pequeno assim!
- É Dinorah! É um mini, um computador bem pequeno. - Nesta altura ela já havia tirado o computador debaixo do braço e colocado sobre uma gondola de batatas - e sabe do que mais? Aqui no mercado tem um negócio que posso usar a internet de graça - enquanto fala vai apertando botões até que aparece um jogo de palavras cruzadas. Escorada junto as batatas pergunta: Vereador com quatro letras? Pinha com três letras?
- Helga, que coisa mais chata! Onde já se viu fazer palavras cruzadas em cima de batatas! No super mercado! Você está tão exibidinha com este computardorzinho.
Irritada ela desliga o computador colocando-o debaixo do braço e começa um discurso.
- Nunca pensei que você fosse tão invejozinha! Este computador me custou uma bronca enorme com o Adolfo. Lembra do meu ausente de aniversário? Pois o insensível resolveu se redimir e comprou esta coisinha maravilhosa só para eu fazer palavras cruzadas.
- Helga, o que foi que você fez para o Adolfo lhe dar um computador? Prometeu alguma greve? De sexo por exemplo?
- Nada disto! - responde a gorducha saltitante - Muito pelo contrário, falei que se ele não me desse um presente ele teria que fazer sexo várias vezes por dia! - A gorducha dá uma gargalhada que ressoa por todo o mercado e prossegue - Em meia hora ele saiu e voltou com esta dádiva! - Fala isto e sai rebolando aquele bundão, com o bendito computadorzinho debaixo do sovaco. Lá do meio do mercado grita:
- Cá para nós, não fizemos uma boa troca?

terça-feira, 7 de junho de 2011

O AUSENTE DE HELGA

- Por que este beiço tão grande Helga? Cuidado! Se você pisar nele pode cair! - a criatura estava insuportávelmente mal humorada. Não falava, grunhia.
- Dinorah você me desculpe por vir até aqui lhe encher o saco por causa das minhas brigas com o Adolfo, mas se eu não desembuchar vou ter um treco! - A gorducha bufava, estava com as bochechas vermelhas e os olhos flamejavam de ira. Na tentativa de acalmá-la prometi fazer um café, ela não deu a mínima pelota, mudei o cardápio, ofereci uma coca zero. - Coca zero com o quê para comer?
- Tem um pudim de leite condensado...
- Pode ser... Tem bastante pudim ou só um restinho?
- Tem bastante.
- Ah! Está bom - gorda desaforada, ainda exige que seja bastante! - Dinorah você não imagina o que aconteceu. Você sabe que estive de aniversário, lembra? Você até me deu um colar muito bonito, mas você não imagina do que o Adolfo foi capaz de fazer comigo.
- O que foi que aconteceu minha amiga? - pronto, bastou um carinho para que a gorducha desandasse numa choradeira, soluçava alto, um choro sentido, fiquei com peninha da criatura. - o que foi que o Adolfo lhe fez? - a coitadinha tentando controlar o soluço contou.
- No dia do meu aniversário, já amanheci esperando o presente do Adolfo. Ele me deu os parabéns, beijos e abraços, mas eu queria um presente. Tomamos café da manhã e nada. Ao meio dia, nada. No final da tarde fui esperá-lo no portão e lá do meio da quadra vi que ele estava chegando com um buquê de flores, vi que estavam enroladas em um papel verde. Para não estragar a surpresa, corri para dentro de casa e fiz de conta que não havia visto nada. Fiquei bem quietinha, até ele entrar e colocar o "buquê" em cima da mesa. Todo alegrinho falou - Amor, passei no mercado e trouxe tomate, cebola e pepino! - tudo dentro de uma sacola verde.
- E você amiga?
- Ah! Eu fiquei muito mal. Me deu uma vontade de chorar mas a vontade de voar no pescoço do Adolfo e esguelar o ser humano, se é que aquilo é um ser humano- era muito maior. Perdi a classe e fiz um discurso sobre a insensibilidade, a grossura, a cavalice que habita aquele coração. - A gorducha desandou novamente no choro. Aos prantos, afastou o pratinho de sobremesa, puxou para perto de si o prato com o pudim inteiro e em poucos segundo nocauteou o infeliz doce.
Acabada a operação liquida pudim, a gorducha resolveu ir embora. Ainda estava com o nariz vermelho e os olhos inchados, mas antes rogou praga:
- "Deixa estar jacaré! Tua lagoa há de secar!" - Não me chamo Helga se o Adolfo não me pagar por toda esta humilhação! - bateu o portão e saiu fungando.
Pobre Adolfo! O que será que este estrupíco furioso vai aprontar? Sem saber já estou com dó.