Sente aí meu irmão É uma coisa rara de ver O ano é bom, muito bom Estou feliz podes crer
A história de Dinorah você encontra em: DINORACOMAGANOFIM: Muito Prazer! Dinoracomagánofim.



Dinorah

Dinorah

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Receita de Dona Cacilda

Recebi um email, daqueles que detesto "Fw Fw Fw Fw". Já estava deletando quando reparei que o remetente é uma pessoa que mal conheço, resolvi ver do que se tratava. Achei tão bonita a mensagem - talvez a humanidade inteira já a conheça, de qualquer forma resolvi compartilhá-la. Saliento que desconheço o autor, se alguém souber, por favor informe para que possa dar o crédito.
Um beijo a todos.
Dinorah

"Receita de Dona Cacilda



Dona Cacilda é uma senhora de 92 anos, miúda, e tão elegante, que todo dia às 08 da manhã ela já está toda vestida, bem penteada e discretamente maquiada, apesar de sua pouca visão, e hoje ela se mudou para uma casa de repouso. O marido, com quem ela viveu70 anos, morreu recentemente, e não havia outra solução.
Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando a atendente veio dizer que seu quarto estava pronto.
Enquanto ela manobrava o andador em direção ao elevador, dei uma descrição do seu minúsculo quartinho, inclusive das cortinas floridas que enfeitavam a janela. Ela me interrompeu com o entusiasmo de uma garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho
- Ah, eu adoro essas cortinas...
- Dona Cacilda, a senhora ainda nem viu seu quarto... Espere um pouco...






- Isto não tem nada a ver, ela respondeu, felicidade é algo que você decide por princípio. Se eu vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília vai estar arrumada... Vai depender de como eu preparo minha expectativa. E eu já decidi que vou adorar. É uma decisão que tomo todo dia quando acordo. Sabe, eu posso passar o dia inteiro na cama, contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem...Ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem.
- Simples assim?
- Nem tanto; isto é para quem tem autocontrole e exigiu de mim um certo 'treino' pelos anos a fora, mas é bom saber que ainda posso dirigir meus pensamentos e escolher, em conseqüência, os sentimentos.
Calmamente ela continuou:
- Cada dia é um presente, e enquanto meus olhos se abrirem, vou focalizar o novo dia, mas também as lembranças alegres que eu guardei para esta época da vida. A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que guardou. Então, meu conselho para você é depositar um monte de alegrias e felicidades na sua Conta de Lembranças. E, aliás, obrigada por este seu depósito no meu Banco de lembranças. Como você vê, eu ainda continuo depositando e acredito que, por mais complexa que seja a vida, sábio é quem a simplifica...
Depois me pediu para anotar: como manter-se jovem:
1. Deixe fora os números que não são essenciais. Isto inclui a idade, o peso, a altura. Deixe que os médicos se preocupem com isso.
2. Mantenha só os amigos divertidos. Os depressivos puxam para baixo. (lembre-se disto se for um desses depressivos!)
3. Aprenda sempre: Aprenda mais sobre computadores, artes, jardinagem, o que quer que seja. Não deixe que o cérebro se torne preguiçoso. 'Uma mente preguiçosa é oficina do Alemão. 'E o nome do Alemão é Alzheimer!
4. Aprecie mais as pequenas coisas
5. Ria muitas vezes, durante muito tempo e alto. Ria até lhe faltar o ar. E se tiver um amigo que o faça rir, passe muito e muito tempo com ele / ela!
6. Quando as lágrimas aparecerem Aguente, sofra e ultrapasse. A única pessoa que fica conosco toda a nossa vida, é DEUS e depois nós próprios. VIVA enquanto estiver vivo.
7. Rodeie-se das coisas que ama: Quer seja a família, animais, plantas, hobbies, o que quer que seja. O seu lar é o seu refugio.
8. Tome cuidado com a sua saúde: Se é boa, mantenha-a. Se é instável, melhore-a. Se não consegue melhorá-la, procure ajuda.
9. Não faça viagens de culpa. Faça uma viagem ao centro comercial, até a um país diferente, mas NÃO para onde haja culpa
10. Diga às pessoas que as ama a cada oportunidade. E, se não mandar isto a pelo menos quatro pessoas - quem é que se importa? Serão apenas menos quatro pessoas que deixarão de sorrir ao ver uma mensagem sua. Mas se puder pelo menos partilhe com alguém!"

sábado, 23 de abril de 2011

Páscoa com torta alemã.

Com muita dificuldade, levanto do sofá e vou capengando atender ao telefone.
- Alô?
- Dinoraaah! Por que você demorou tanto para atender ao telefone? Estava dormindo?
- Não, é que ontem estava cuidando do jardim e caí. Escorreguei no pátio e estou toda escalavrada e renga. O Alberico tentou me levantar, mas você sabe, ele também já não está muito em forma e não conseguia... – ela não me deixa concluir.
- Meu Deus! Você está jogada no jardim desde ontem???!!! Estou indo aí para lhe juntar!
A criatura é doida mesmo. Se estive caída no jardim como é estaria atendendo ao telefone? Não demorou muito e o estrupício surgiu, pensei estar tendo uma alucinação. A criatura estava com umas imensas orelhas de coelho na cabeça e uns bigodes enormes desenhados na cara.
- Feliz Páscoa Dinorah! Trouxe uma garrafa de vinho e um ovo de páscoa que o coelho deixou para você. Como é que você está? Já está no sofá é? – Olha para minhas pernas, uma toda cheia de mercúrio e a outra, esticada sobre almofadas, quer saber o que houve.
- Pois é Helga, foi como lhe contei, escorreguei, uma perna foi para um lado e a outra para o outro. Aliás, não lembro quando foi a última vez que consegui abrir as pernas tanto assim. Gargalhamos juntas. Digo que estou toda torta e dolorida. A gorducha, que é muito carinhosa, demonstra preocupação, quer ajudar, falo que está tudo bem. Ela diz que vai buscar um copo d’água e some. Volta com a garrafa de vinho aberta e dois copos.
- Velha Dinorah! Vamos comemorar que seus ossos estão bem, que não foi desta vez que a osteoporose lhe pegou – serve um cálice e quando vai servir o outro digo que não posso beber.
- Helga, não posso beber, estou tomando anti-inflamatório.
- Eu não estou tomando nada então não tem problema. – e já entorna um gole – À sua saúde Véia! – descansa o copo e descasca o ovão de chocolate, tira uma lascona que enfia na boca.
- Helga me dá um pedaço! Chocolate eu posso comer! – ela me alcança um caquinho e volta a colocar o ovo trucidado em seu colo e assim passa a tarde. Falando, bebendo, falando e comendo.
- Dinorah, que pena que você não pode beber. Este vinho está uma delícia! – enche mais um cálice, já está meio grogue, e vejo que a garrafa já está no fim.
A criatura comeu todo o ovo que “o coelho deixou para mim” e também bebeu todo o vinho. Está bêbada. Já chorou imaginando como seria horrível se algo de “pior” tivesse acontecido comigo – isto é, se eu tivesse morrido. Ela é dramática, mas acho que também se faz de sonsa, assim não brigo com ela por ter comido todo o chocolate. Esfrega os olhos e os “bigodes” de coelho viram um borrão só. As orelhas ainda estão no lugar. Levanta-se cambaleando, diz que já vai, sinto que não vai dar boa coisa.
- Helga, espera que vou pedir para o Alberico lhe levar, pois do jeito que você está vai acabar caindo também.
A gorducha dá uma gargalhada e diz:
- Não tem problema, se cair e ficar toda torta o Adolfo poderá comer uma “torta alemã”, ou será um "alemã torta"?
A gorducha vai embora. Fico observando a silhueta daquele coelho gordo passar pelo portão onde deixa as orelhas enganchadas.
- Helga! As orelhas! – grito para ela.
- Deixa pra lá! Melhor perder as orelhas do que o rumo! – responde sem se virar, segue em frente cambaleante e, ainda sem se virar, grita – Feliz Páscoa Dinorah!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Lei Dinorah!

LEI DINORAH DA MARAMBAIA


Aos domigos, todo o cidadão deverá permanecer em sua casa, ficando proibida a visitação à casa de outro cidadão, a menos que tenha sido convidado.


Ninguém poderá aparecer de surpresa na casa de outra pessoa sob pena de ser visitado o dobro de vezes, com o dobro de pessoas, pelo dobro do tempo - isto se a pessoa visitada tiver saco para retribuir visitas.


Aos domingos, as pessoas que não tiverem o que fazer em suas casas deverão dirigir-se às praias, parques, cinemas, shoppings, etc.


Quem tem bichinho de estimação só poderá levá-lo de acompanhante na casa de quem também tiver bichinho de estimação.


Caso reste alguma dúvida, favor lembrar que até Deus, no 7º dia DESCANSOU!

Foi para isto que Ele inventou o domingo. Para todos descansarem e não só para o descanso das visitas!


Amém!


Marambaia, 20 de abril de 2011.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Desculpem a ignorância.

Dúvida 1
Desculpem minha ignorância – deve ser do tamanho do mundo, tenham dó de mim - mas alguém poderia me explicar o que faz uma pessoa ter vontade de assistir a encenação do calvário, a morte de Jesus Cristo? – não gosto nem de ver a propaganda. Ta eu sei, rende uma grana felomenal, como diria aquele personagem do Zé Wilker, mas eu ainda prefiro comer chocolate em Gramado. Talvez seja isto: a Paixão de Cristo não engorda!

Dúvida 2
Por que produtos tão famosos como os da Unilever tem umas propagandas tão bobocas e presumo caras como aquela da mulher que se joga de um andar lá de cima para entrar num vestido sem o manchar com o desodorante? Ou ainda aquela em que a Camila Pitanga corre, corre, corre...

Dúvida 3
Quem são aqueles homens azuis da Tim? – acho que nunca teria uma operadora com uns heróis tão feios e sem graça.

Dúvida 4
Será que não tenho mais nada para fazer?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O mau humor de Helga.

Ainda estava muito mau humorada com a última sacanagem da Helga – aquela em que ela me fez fumar matinho com orégano dizendo que era maconha - “da lata”. Encontrei-a no mercado, estava esquisita, cabeça baixa, calada, não conversava com nenhum atendente ou cliente, não sorria. Fiquei preocupada.

- Olá Helga! Tudo bom? – pergunto meio sem graça.

- Tudo. – E foi só. A gorducha não falou mais nada, continuava a colocar alguns tomates na sacola, junto com abobrinhas e outras frutas e verduras.

- O que foi Helga? Você tem certeza de que está bem? – insisti.

- Mais ou menos.

- O que foi, brigou com o Adolfo?

- Que Adolfo que nada! – exclamou irritada, não sabia se a irritação era com o pobre Adolfo ou comigo.

- Mas então o que é? O que é que está acontecendo?

- Ah Dinorah! Que saco! Será que não tenho o direito de ficar ruim um dia na vida? Não tenho o direito de sentir uma dor de cabeça, uma sensação de febre, umas dores migratórias pelo corpo?

- Nossa Helga! Você está tão mal assim?

- To! Já tomei um buscopan – que é para as dores da cintura para baixo e um beserol que é para as dores da cintura para cima, mas continuo sentindo tudo igual. Helga é hipocondríaca, adora tomar um comprimido, ”salivo só de olhar para um botão de camisa, pensando que é aspirina” conforme aprendeu com uma amiga, famosa gourmet. Ela tem umas companhias que ajudam a aumentar o estoque de remédios e sintomas – Comadre Blonde, Suely e ela sofrem de “sensação de febre” sem ter febre alguma, são os únicos casos que conheço. Elas também têm dores migratórias. Ora a dor está num braço, ora na perna, ora nas costas e assim a dor vai de um lado para outro, “migrando” por todo o corpo. Ela e a Comadre Blonde, sempre que se encontram discutem os últimos lançamentos farmacêuticos. A comadre vive na cidade grande, tem mais acesso a droga legal então manda cartas contando dos lançamentos. Helga imediatamente sai às catas do remédio novo. Imagine se ela vai perder para a comadre! Não ter o último lançamento seria uma humilhação! Vai daqui, vai dali, ajudo a gorducha com as compras, convido para conversarmos num café novo que abriu na cidade. Sem muito ânimo e com total ausência de bom humor a criatura concorda. Peço um refrigerante e uma fatia de torta de chocolate. Ouço o pedido da minha amiga:

- Para mim uma água mineral sem gás... – fala aquilo como se estivesse morrendo, mal ouço a voz, não fosse o peso de seu mau humor diria que não havia ninguém comigo.

- Água mineral Helga?!

- É! Por quê? Não posso ser uma pessoa saudável? Parar de comer este monte de porcarias? Coisas que só fazem mal para o organismo e deixam a gente cada vez mais gorda? Que saco! Agora você vai fiscalizar o que como, o que bebo? – a gorducha me xinga muito, está furiosa. Não sei mais o que fazer, pergunto sobre as dores, sei que ela adora este papo de dor x remédio.

- Onde é que está doendo Helga? Posso ajudar? Talvez uma massagem?

Helga abre um berreiro em pleno café, assim como gargalha alto, também chora bem alto. Fico em pânico. O que pensarão os outros? Pensarão que bati na criatura. Continuo insistindo para que ela fale, que diga o que está acontecendo. Por fim ela capitula e confessa.

- Dinorah, eu não estou aguentando mais! Não consigo nem pensar que dói! Entra em desespero e chora outra vez.

- Helga, pelo amor de Deus! O que é que está acontecendo? Vou levá-la ao hospital. Você está mal!

- Não precisa! Não é nada. É que há duas horas decidi fazer regime. Desde então comecei a passar mal. Estou me sentindo mal, com dores, depressão, desespero, raiva, ódio! – fala bem alto, quase gritando e por fim dá um berro – Quero morrer!!!

Desta vez quem dá a gargalhada sou eu.

- Por favor! Uma fatia de torta de chocolate e uma coca zero! – Empurro o prato para frente da minha amiga, que seca as lágrimas que lhe escorrem pelo rosto vermelho de tanto chorar. Entre soluços, espeta o garfo no bolo, saca um enorme pedaço de massa envolta em abundante camada de calda, enfia de uma só vez na boca. Come todo o bolo calada, catando todas as migalhinhas. Diz que o bolo está com um gosto diferente, mas se auto consola alegando que deve ser o tempo que passou sem comer chocolate – umas 4 horas, quem sabe.

- Querida! – fala, gentilmente, dirigindo-se a atendente - Por favor, consegue mais um pedaço! – da um suspiro, e com um sorriso nos lábios declara – Dinorah minha linda! Não há remédio que cure minha depressão, mau humor, dor nas costas, unha encravada, dor de cotovelo, como um bom pedaço de bolo de chocolate! Bendito cacau, bendito açúcar! Só eles para me causarem esta sensação de bem estar! A gorducha está feliz! Rindo a toa. Agora acho que chegou a vez da minha vingança:


- Helga, você tem certeza que está bem? Feliz?

- Estou! Estou de bem com a vida. Graças ao Doce!

Pego minha bolsa, pago a conta, deixo a gorducha se entupindo de bolo de chocolate.

- Tchau Helga! Fico feliz por você ter gostado deste novo café. Aqui só servem doces diet, a base de aspartame!

Saio rápido. Quando alcanço a porta um tomate passa de raspão por minha orelha e uma abobrinha cruza o céu sobre minha cabeça.

- Dinorah sua vaca! Você me paga!

sábado, 9 de abril de 2011

Droga de Helga!

Estou meio borocoxô. Não sei se é esta chuvinha, o resfriado, a preguiça...


- Hu hu! Olá Dinorah!


Ah meu Deus! Tudo menos uma visita da Helga! Não estou com vontade nenhuma de sair da minha concha, de encher os ouvidos com bobagens e asneiras. Não estou com vontade de rir – acho que gostaria mais é de chorar, sem saber por que nem por quem. Ai saco! Vou ter que dar um jeito e despachar a gorducha. Com uma cara azedíssima abro a porta e a criatura saltita na minha frente toda risonha e alegre. Tenho que dar um jeito de interromper o fluxo daquela energia alegrativa, afinal não estou a fim de ficar nem alegre nem feliz. Não entendi muito bem o traje que o ser estava usando. Uma coisa “temática” túnica indiana, faixa na testa, muitos colares e uma bolsa atravessada no ombro.

- Oi Helga – respondo com a cara amarrada e sem nenhuma empolgação.

- Dinorah, não adianta disfarçar, você estava assistindo “E o vento levou” e morrendo de chorar não é mesmo? Eu adoro chorar com a Scarlet...

- Helga, hoje não estou muito a fim de papo. Não estava assistindo nada e estou com vontade de ficar triste, de mau humor, azeda, de mal com a humanidade...

- Ah! Já sei! Você não está trocando o azedume nem por uma mega sena acumulada não é? Sei bem como é isto. – Fala num tom de seriedade, demonstrando certa compreensão, fico aliviada. A criatura vai entender a minha idolatrada depressão e vai se mandar, deixando-me em paz. – Eu também, às vezes fico assim, não quero mais nada além de uma caixa de bombons e quem sabe uma coca zero.

- Eu não quero bombom nem coca zero. Só quero ficar sozinha. Sozinha entendeu Helga?


- Para com esta bobagem Dinorah, você nem viu o que tenho na minha bolsa – sacode uma enorme bolsa de tricô colorido na minha cara


- Trouxe uma coisa maravilhosa para curtirmos juntas.

O que será que a gorducha tem na bolsa? Pozac, valium, eufor? Mas eu não quero nada Quero ficar sozinha, com ela, esta depressão maravilhosa que me faz sentir um ser rastejante, sem serventia, só sentido pena de mim mesma. É tão horrível! Tão bom para me lastimar.

- Tá bom Helga, entre. O que você tem aí? – não adianta, eu conheço a praga. Ela não vai desistir então o melhor que posso fazer é ouvi-la e despachá-la em seguida.

- Tchan! Tchan! Tchan! – mostra uma caixinha de fósforo – Dinorah! Há quanto tempo você não dá um tapinha?

- Helga, eu não acredito que uma velha como você agora deu para fumar maconha?

- Ora, ora, vamos parar com esta repressão! Há muito tempo passamos da idade de “pegar o vício”, naquele tempo até que fumamos pouco. Vivíamos com um bando de loucos e no fim éramos quase caretas. Ganhei unzinho de uma amiga, guardei para uma ocasião especial e acho que este dia chegou. Vamos lá garota! Vamos reviver Woodstock! – esta criatura tem o dom de me tirar do sério, mas não sei como não rir daquele estrupício. O que é que uma velha daquelas quer fumando maconha?

- Criatura eu nem sei mais como se fuma isto, aliás, sempre achei meio saco não existir um fininho com filtro ou com piteira, sempre acabava por queimar as pontas dos dedos e os beiços. - Não se preocupe, tem um grampo aqui. Eu também não sei fumar muito bem.

Ajeita daqui, ajeita dali, a gorducha “ligou” a droga – literalmente – deu uma tragada e meio fanha exclamou:

- Maresshhhia... maressshhia. Dinorah, dá um tapinha.. – a gorducha estatelou-se entre almofadas que jogou no chão e, como se fosse uma metamorfose simbiótica, não se podia definir onde começavam as almofadas e onde terminava a Helga. Fumamos um baseado consideravelmente grande. Falei que estava achando meio estranho o gosto da porcaria, ela me garantiu que era a falta de prática. Que era erva das boas – “da lata”! Helga começou a delirar, falava mais asneiras do que nunca. Normalmente, de cara, ela é uma asneira ambulante, mas assim, drogada, era muito pior. Começamos a rir por qualquer bobagem. Helga me perguntou se eu já estava vendo elefante cor de rosa voando, gargalhávamos, chorávamos e ríamos ao mesmo tempo. Não sei quanto tempo ficamos assim, até que de repente a gorducha levantou.

- E aí velha Dinorah de guerra? Gostou da farra?

- Poxa Helga, quanto tempo eu não ria deste jeito, só mesmo com uma maconha, suspirei.

- Maconha nada doidinha! Fiz uma mistura de uns matinhos com orégano. Dinorah, você precisa gostar mais de ser feliz!

- Helga, você me paga! – fiquei furiosa, joguei uma porção de almofadas naquela criatura horrorosa. Chamei-a de mau caráter, desonesta, falcatrua, 171!


- Tchau Dinorah! Já vou. Consegui trocar sua autocomiseração por raiva de mim. É uma boa troca. - Bateu a porta e foi-se embora.

Fiquei ali, morrendo de ódio daquela velha hippie. Droga! E agora? Cadê a depressão que estava aqui? Procuro por todos os cantos e não consigo encontrá-la.


Vai ver a gorducha levou-a na bolsa! Droga!

domingo, 3 de abril de 2011



Sábado à tarde, um calorão do cão, louca para ir à praia, mas um resfriado não me deu alternativa que não preparar aulas – o brinquedo novo que descobri. Eis que ouço uma voz conhecida:


- Hu! Hu! Dinorah? Comansává?

- Helga! Há quanto tempo! Entra que saudades! A gorducha, toda perfumada colorida e faceira, engrena um rebolado, faz biquinho e me indaga em francês:

Sávábian?

- O que é isto criatura! Agora deu para receber um santo francês? Foi só passarmos algumas semanas sem nos vermos que você virou francesa?

- Ai Dinorah! Nem lhe conto! – joga-se na rede, ajeita o corpanzial, reclama que depois será um sacrifício sair da tal rede, mas que adora se sentir suspensa no ar. Cutuca a parede com o pé para conseguir um embalinho – Hoje pela manhã, minha irmã Maria da Glória, aquela que é muito chique, ligou. Contou que está de malas prontas para comemorar o aniversário de casamento em Paris. Ah! Parrrriii! Como é linda! Que saudades! Da última vez que estive lá, lembro de ter saboreado queijos deliciosos.

- Só um pouquinho Helga. Quantas vezes você esteve em Paris? Que eu saiba, só uma. – a criatura suspensa e embalante, olhando para o nada faz um olhar de menosprezo, estala os lábios e afirma:

- Então, se fui só uma vez não importa, interessa é que, casualmente, foi a última vez que estive na Cidade Luz! Dinorah, vou lhe confessar uma coisa, não conte para ninguém, mas estou morrendo de inveja da Maria da Glória, você sabe, ela é meio metida, exibida, gosta de coisas chiques. Eu não a condeno por isto, afinal, também gosto de tudo isto, mas eu sei que ela é boa para línguas e vai voltar falando francês bem direitinho, por isto já estou ensaiando o meu. Não vou perder para ela. Já estou imaginando Glorinha fazendo biquinho para falar. Droga! Que inveja!

- Helga, deixa para lá este negócio de ciúmes. A Maria da Glória é uma pessoa tão legal, basta os telefonemas sem fim que vocês duas trocam e, se não me engano é sempre ela quem paga, sei bem que você liga e ela imediatamente diz para você desligar e ela liga em seguida.

- Ah! Dinorah! Pare de defender a Glorinha, o marido dela é cheio do dinheiro, apaixonado por ela, tá pouco se lixando se ela gasta uma hora em cada conversa que temos. Ele adora fazer as vontades dela. – faz mais um muxoxo e reclama – acho que agora também estou com inveja do marido da Glorinha. Mas o que é que você está fazendo? Não vai dizer que está às voltas com assuntos de aula? Dinorah, você anda um saco! Só pensa em aulas e histórias de alunos. Aliás, você descobriu quem foi que acrescentou o “nome” no final da relação de alunos que estava afixada na porta da sala de aula?


- Quem? O “Fida Peste”? Descobri! Foi no final da aula sobre Portinari. Passei duas horas falando e mostrando algumas gravuras com as obras em que o artista retratava o cotidiano, casamento na roça, trabalhadores, festa de São João etc. Foi quando ouvi uma criatura miúda – por que será que os miúdos são tão cheios de energia? - reclamar:

- Professora, a senhora falou o tempo inteiro que esse homem pintava o cotidiano, mas a senhora não mostrou nenhum retrato dele.

– Dele quem? – indaguei.

– Do Cotidiano, Fida peste!

A gorducha deu uma gargalhada, sacudindo-se na rede e assim que se recuperou perguntou:

- Dinorah, lembra-se da Irmã Calinda? – deu uma gargalhada ainda maior e repetia Caliiiinda imitando o sotaque da pobre freirinha. Helga e eu fomos colegas de primário e ginásio em um colégio de freiras, onde a maioria das professoras eram irmãs franciscanas alemãs, falavam com sotaque carregado. O nome correto da freirinha era Carlinda, mas ela não pronunciava o erre e a gente se divertia com aquilo. Pois ela foi nossa professora de Português. Pasmem! Aprendemos a conjugar verbos e análise sintática com ela – algumas, confesso, aprenderam mais do que eu. Tinha também a Irmã Aline que ensinava artes, nos ensinou a fazer fantoches de papel machê.

- Eu nunca consegui fazer um fantoche. Acabava fazendo umas bolotas de papel machê que grudava na lente dos óculos e ficava me fazendo de cega no meio da sala de aula – declarou entre risos a da rede.

Passamos a lembrar os tempos de escola. Rimos muito, éramos umas pestes. Eu nem tanto, mas a Helga! Ela era impossível, os professores não podiam vê-la que já a colocavam de castigo, antes mesmo que abrisse a boca e aprontasse alguma.

- Helga, lembra de uma fase que roubávamos a merenda dos professores? E aquela vez em que subimos na torre a Igreja e não conseguíamos descer? E quando matamos aula para pegar autógrafo dos “Brazilian Beatles”?

Fiquei com medo de que a rede com a gorducha não resistisse e viesse ao chão de tanto que ríamos.


- Dinorah, sabe de uma coisa? Fida Peste fomos nós duas – melhor: Fidêpêstê, fica mais chique!