Sente aí meu irmão É uma coisa rara de ver O ano é bom, muito bom Estou feliz podes crer
A história de Dinorah você encontra em: DINORACOMAGANOFIM: Muito Prazer! Dinoracomagánofim.



Dinorah

Dinorah

sábado, 22 de outubro de 2011

Lição de casa.

Aproveito que em breve acontecerão as comemorações da semana da consciência negra (20/11) e ensino brincadeiras de origem africana, como pular corda, onoum – que é como chamam por aqui aquela brincadeira que as meninas fazem de pular elástico - e “escravos de Jó”, confesso que desconhecia a origem de qualquer uma delas, mas quando falei sobre “pular elástico”, ninguém na sala sabia o que era, falei como a brincadeira funcionava e todos gritaram:
- Ah! Professora, isto é ONOUM!
Como vocês podem ver as tradições africanas, por aqui estão bem preservadas, inclusive no nome do jogo, talvez por influência dos muitos quilombos que compõe o município. Nenhuma criança demonstra qualquer sintoma de vítima de preconceito racial, uma maioria negra facilita a coisa – o meu cabelo liso e vermelho talvez seja uma das atrações da sala de aula, todos passam a mão e perguntam se é natural. Digo que não, não é natural! - É “cereja-da-koleston”! – e eles seguem passando a mão e comentando como é diferente.
Falei para eles sobre “escravos de Jó”, a maioria sabia a música, mas nem todos conheciam a brincadeira – cantar e passar um objeto de um para outro e quando alguém erra sai da brincadeira. Resolvi fazer uma releitura das regras do jogo. - ninguém sai da brincadeira quando erra, o objetivo é fazer com que todos aprendam a jogar e termina quando todos acertam.
Sentados no chão da sala de aula, com caixas de fósforos vazias, começamos a jogar. Alguns alunos, por não saberem, ou por timidez não querem participar. Tento fazer com que entrem na brincadeira, explico que todos devem ter a paciência de Jó, que estamos na escola para aprender, ninguém nasce sabendo etc. etc.
Consigo convencer um menino - aquele bem miudinho que acorda as 4 da manhã e caminha, com uma lanterna, durante uma hora pelo meio do mato junto com o irmão, pega um barco e navega por mais uma hora até chegar a escola. Ele é muito tímido, tem uns olhos pretos como jabuticaba, senta na primeira fila e me olha com uma mistura de respeito e desconfiança, dificilmente ouço sua voz - até que finalmente ele se dispõe a jogar.
As crianças, em círculo, sentadas no chão, de pernas cruzadas ou ajoelhadas jogam, brincam, brigam, gritam como crianças que são. O menino tímido fica de cócoras, não desgruda os pés do chão, não reparo nisto, mas os colegas reparam e rindo e debochando falam:
- Ele não senta porque o sapato dele está furado e vai aparecer! – todos riem e dão gargalhadas. O menino, que estava começando a jogar e gostando do jogo, levanta e vai sentar em sua cadeira.

Vou até o menino, falo baixinho para ele voltar a jogar, que pode ficar de cócoras. Ele balança a cabeça fazendo que não. Olho para aqueles olhos de jabuticaba que estão sérios e tristes, engulo o meu choro, estou tentando disfarçar as lágrimas quando outro se pendura no meu pescoço e fala no meu ouvido:
- Professora, deixa a gente sair, já bateu para o recreio e eu to tremendo de fome!

Ôoomôpai!

Quanta lição de casa para eu aprender!




ps.: alguns professores estão há quase um mês sem receber salários e um possível desvio da verba da merenda escolar está sob investigação.

domingo, 9 de outubro de 2011

ando pensando

... em deixar o bigode crescer, comprar um macacão de bombeiro e uma caixa de ferramentas. Quem sabe conquisto algum bonitão...