Sente aí meu irmão É uma coisa rara de ver O ano é bom, muito bom Estou feliz podes crer
A história de Dinorah você encontra em: DINORACOMAGANOFIM: Muito Prazer! Dinoracomagánofim.



Dinorah

Dinorah

domingo, 3 de abril de 2011



Sábado à tarde, um calorão do cão, louca para ir à praia, mas um resfriado não me deu alternativa que não preparar aulas – o brinquedo novo que descobri. Eis que ouço uma voz conhecida:


- Hu! Hu! Dinorah? Comansává?

- Helga! Há quanto tempo! Entra que saudades! A gorducha, toda perfumada colorida e faceira, engrena um rebolado, faz biquinho e me indaga em francês:

Sávábian?

- O que é isto criatura! Agora deu para receber um santo francês? Foi só passarmos algumas semanas sem nos vermos que você virou francesa?

- Ai Dinorah! Nem lhe conto! – joga-se na rede, ajeita o corpanzial, reclama que depois será um sacrifício sair da tal rede, mas que adora se sentir suspensa no ar. Cutuca a parede com o pé para conseguir um embalinho – Hoje pela manhã, minha irmã Maria da Glória, aquela que é muito chique, ligou. Contou que está de malas prontas para comemorar o aniversário de casamento em Paris. Ah! Parrrriii! Como é linda! Que saudades! Da última vez que estive lá, lembro de ter saboreado queijos deliciosos.

- Só um pouquinho Helga. Quantas vezes você esteve em Paris? Que eu saiba, só uma. – a criatura suspensa e embalante, olhando para o nada faz um olhar de menosprezo, estala os lábios e afirma:

- Então, se fui só uma vez não importa, interessa é que, casualmente, foi a última vez que estive na Cidade Luz! Dinorah, vou lhe confessar uma coisa, não conte para ninguém, mas estou morrendo de inveja da Maria da Glória, você sabe, ela é meio metida, exibida, gosta de coisas chiques. Eu não a condeno por isto, afinal, também gosto de tudo isto, mas eu sei que ela é boa para línguas e vai voltar falando francês bem direitinho, por isto já estou ensaiando o meu. Não vou perder para ela. Já estou imaginando Glorinha fazendo biquinho para falar. Droga! Que inveja!

- Helga, deixa para lá este negócio de ciúmes. A Maria da Glória é uma pessoa tão legal, basta os telefonemas sem fim que vocês duas trocam e, se não me engano é sempre ela quem paga, sei bem que você liga e ela imediatamente diz para você desligar e ela liga em seguida.

- Ah! Dinorah! Pare de defender a Glorinha, o marido dela é cheio do dinheiro, apaixonado por ela, tá pouco se lixando se ela gasta uma hora em cada conversa que temos. Ele adora fazer as vontades dela. – faz mais um muxoxo e reclama – acho que agora também estou com inveja do marido da Glorinha. Mas o que é que você está fazendo? Não vai dizer que está às voltas com assuntos de aula? Dinorah, você anda um saco! Só pensa em aulas e histórias de alunos. Aliás, você descobriu quem foi que acrescentou o “nome” no final da relação de alunos que estava afixada na porta da sala de aula?


- Quem? O “Fida Peste”? Descobri! Foi no final da aula sobre Portinari. Passei duas horas falando e mostrando algumas gravuras com as obras em que o artista retratava o cotidiano, casamento na roça, trabalhadores, festa de São João etc. Foi quando ouvi uma criatura miúda – por que será que os miúdos são tão cheios de energia? - reclamar:

- Professora, a senhora falou o tempo inteiro que esse homem pintava o cotidiano, mas a senhora não mostrou nenhum retrato dele.

– Dele quem? – indaguei.

– Do Cotidiano, Fida peste!

A gorducha deu uma gargalhada, sacudindo-se na rede e assim que se recuperou perguntou:

- Dinorah, lembra-se da Irmã Calinda? – deu uma gargalhada ainda maior e repetia Caliiiinda imitando o sotaque da pobre freirinha. Helga e eu fomos colegas de primário e ginásio em um colégio de freiras, onde a maioria das professoras eram irmãs franciscanas alemãs, falavam com sotaque carregado. O nome correto da freirinha era Carlinda, mas ela não pronunciava o erre e a gente se divertia com aquilo. Pois ela foi nossa professora de Português. Pasmem! Aprendemos a conjugar verbos e análise sintática com ela – algumas, confesso, aprenderam mais do que eu. Tinha também a Irmã Aline que ensinava artes, nos ensinou a fazer fantoches de papel machê.

- Eu nunca consegui fazer um fantoche. Acabava fazendo umas bolotas de papel machê que grudava na lente dos óculos e ficava me fazendo de cega no meio da sala de aula – declarou entre risos a da rede.

Passamos a lembrar os tempos de escola. Rimos muito, éramos umas pestes. Eu nem tanto, mas a Helga! Ela era impossível, os professores não podiam vê-la que já a colocavam de castigo, antes mesmo que abrisse a boca e aprontasse alguma.

- Helga, lembra de uma fase que roubávamos a merenda dos professores? E aquela vez em que subimos na torre a Igreja e não conseguíamos descer? E quando matamos aula para pegar autógrafo dos “Brazilian Beatles”?

Fiquei com medo de que a rede com a gorducha não resistisse e viesse ao chão de tanto que ríamos.


- Dinorah, sabe de uma coisa? Fida Peste fomos nós duas – melhor: Fidêpêstê, fica mais chique!

9 comentários:

  1. Bien sûre, ma cherie, beaucoup plus chique!
    Oh! Dinorah da minha alma, estou chorando de tanto rir.
    Onde é que tu vais desenterrar estes diálogos, esta Helga, estes problemas existenciais? É um cocktail de ciúmes, pretensão e de maluquice pegada. Será que nós fazemos mesmo papéis como este?
    Minha querida, nada como rir de nós próprios e não nos levarmos demasiado a sério, porque, pensando bem, todas temos um je ne sais pas quoi de Helga.
    Beijos e tem uma semana luminosa,
    Nina

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  2. Oi amiga Dinorah...

    Passando para deixar um beijo carinhoso e desejar que tua semana seja abençoada...

    Seus textos continuam impagáveis...Helga é realmente uma figuraça... lendo, lembrei de minha Profe de Francês no ginasial, Madame Juliette...aprontamos muito com ela e seu sotaque...hahahaha

    (vai virar post meu....que lembrança boa...)

    Se cuide...Inté mais ler

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  3. Confesso que estava com saudades da Helga, apesar dela ser hiperbólica quando se trata de narrar suas aventuras, ela deixa qualquer um de alto astral.

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  4. Querida Dinorah, poderia ter respondido no meu blog , mas receei que não voltasse lá.
    Estou aqui para dizer:
    VEM!
    Braga é uma cidade encantadora a 50 Km do Porto.
    Mas, o mais importante, adorava conhecer-te!
    Beijos,
    Nina

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  5. Nina querida, você é um encanto! Quem sabe um dia destes não acontece uma viagem até o Porto e a gente se conheça? Confesso que também adoraria lhe conhecer. Um beijo,
    Dinorah

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  6. Saudade de Helga e suas gargalhadas.
    Que bom que vc. a trouxe de volta.
    Que ela passe mais vezes por aí sem te atrapalhar... e que a semana seja iluminada para todos.
    Beijos

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  7. A Helga é uma figura! Adoro suas histórias rs

    Beijos

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  8. Mulher/menina:
    Travessuras de gente grande, num coração de menina. A doçura das palavras encantadas. Dinorah é uma expressão de PAZ num mundo turbulento e de violência. Quem semeia alegria, colhe FELICIDADE. A ventura reside nas coisas singelas e extraí-la é uma arte divinal, um dom, uma bênção. Que seu coração permaneça impermeável às agruras e prossiga sendo o Sol luminoso do BEM através dessas suas mensagens afáveis.
    Um beijo do tamanho do seu coração.

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  9. Dinorah, estou com saudades da Helga!
    Beijos,
    Nina

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