Sente aí meu irmão É uma coisa rara de ver O ano é bom, muito bom Estou feliz podes crer
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Dinorah

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

I. A avó


Quando criança, a avó lhe dava banho, penteava o cabelo, fazendo uma onda com o pente, por fim, passava-lhe algumas gotas de “Água de Colônia 4711”.
Lembrou-se das mãos da avó.
- Vó, por que tuas mãos são cheias de pintinhas?
- É mão de velha. Mão de velha é assim, a pele enferruja, fica molenga, dá até para fazer cu de galinha.
Lembrou-se como gostava de fazer cu de galinha na mão da avó, de como era bom brincar com suas mãos. Tinha uma aliança que era de ouro com uma borda de platina. A avó lhe contou que era assim por que já estava casada há muito tempo com o avô, era como se tivessem casado duas vezes. Gostava de brincar com uma pulseira que ela usava. Uma argola grande com outras argolinhas menores que corriam sobre a grandona - cada argolinha representava um ano de casada. Todo ano, no aniversário de casamento, o avô mandava colocar mais uma argolinha.
A imagem da avó surgiu em sua imaginação. Uma mulher robusta, pele clara, olhos azuis. Seus vestidos, sempre do mesmo feitio - como ela dizia - tinham dois grandes bolsos, um deles guardava um providencial lenço - para limpar o nariz dos netos.
Sentia uma paz imensa quando lembrava da avó. Talvez a avó fosse serena mesmo, pelo menos foi isto que sempre imaginou. Descendia de colonos alemães. Fora educada em alemão. Quando casou-se, só falava alemão e o avô só o português. Os dois se chamavam de schatz – tesouro – em alemão.
Hoje, já tão velha quanto sua avó era na época, indagava-se – como é que lá naquele tampo, no meio de gente com tanta dificuldade de expressar sentimentos, os dois, depois de muito tempo de casados, ainda tinham o carinho – e se fosse por costume, tanto faz – de se chamarem de tesouro? Quem, dos filhos e netos, ainda chama o marido ou a mulher por um apelido carinhoso?
Analisava e concluía que a avó deveria ser muito tímida, mas também, muito carinhosa, afinal, o apelido era em sua língua – schatz!

Um comentário:

  1. Lembranças de avós são tão legais. Lembro de minha avó cantando cantigas. De minha bisavó Sophia, lembro que ficava horas na varanda pegando nos braços flácidos dela. Era um diversão.

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