Sente aí meu irmão É uma coisa rara de ver O ano é bom, muito bom Estou feliz podes crer
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Dinorah

Dinorah

domingo, 24 de outubro de 2010

III. A cozinha


Lembrou-se da cozinha de sua avó. Aquela mesa enorme, com um banco azul, em forma de éle. Chegou a sentir o cheiro da lenha queimando no fogão, dos bifes sendo passado na chapa quente - Como será que minha avó conseguia aquele sabor? Nunca mais comi nada parecido - Pensou consigo mesma.
Ouviu a conversa das mulheres, sua mãe, tias, vizinhas discutindo sobre um novo ponto de tricô enquanto folhavam uma Burda. Até o barulhinho das agulhas de tricô, batendo as pontinhas uma na outra. ela teve a impressão de ouvir. Todas as manhãs elas se reuniam ao redor daquela mesa. Faziam tricô, costuravam, tomavam chimarrão. Conversavam sobre os maridos e filhos, trocavam receitas e diziam que ali não era lugar de criança – vão brincar lá fora que isto é assunto de gente grande – quantas vezes deve ter ouvido aquilo? Não tinha conta.
Enquanto o mulherio falava, a avó fritava bolinhos de arroz para oferecer a todas. Era quem menos falava, como se fosse invisível, estava ali só para aquecer mais água para o chimarrão ou alcançar uma tesoura para quem estivesse precisando. Uma figura que vivia nos bastidores, silenciosa, não metia o bedelho em nada, só quando alguém pedia sua ajuda é que se ouvia sua voz.
Em seguida, a imagem de um guarda louças surgiu. Um móvel azul, na parte de cima, as portas de vidro, mostravam prateleiras enfeitadas com barras de crochê e xícaras penduradas.
A avó também possuía louças, talheres e copos de festa. Eram bonitos. A louça era decorada com azul escuro e florzinhas cor de rosa com frisos dourados. As taças de champanhe eram aquelas de boca larga, não eram essas flute modernas. No faqueiro faltava uma colher de cafezinho, a avó sempre lhe dizia que devia ter sido jogada no lixo, por engano, pois nunca lhe descobrira o paradeiro. Também havia uma poncheira, com os canecos, eram de vidro cor de rosa, com o desenho de damas antigas e seus pares, tudo feito em relevo, e uma pesada concha de vidro. Aquele apetrecho era usado somente no primeiro dia do ano. Não sabia se era por causa do Reveillon ou por ser o aniversário de sua avó.
Naquele tempo, a cozinha era o coração da casa, lugar de junção de todas as visitas.

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