Sente aí meu irmão É uma coisa rara de ver O ano é bom, muito bom Estou feliz podes crer
A história de Dinorah você encontra em: DINORACOMAGANOFIM: Muito Prazer! Dinoracomagánofim.



Dinorah

Dinorah

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

"ADEUS ANO VELHO, FELIZ ANO NOVO..."



História da música de Ano Novo

Você sabia que a famosa música que é cantada na passagem de ano foi criada por Chico Alves, um dos mais populares cantores do Brasil, e tem a letra do compositor e jornalista brasileiro David Nasser, foi feita em 1951?
Afinal, Dinorah também é cultura!


"Fim de Ano"
Composição: Francisco Alves e David Nasser

Adeus ano velho
Feliz Ano Novo
Que tudo se realize
No ano que vai nascer.
Muito dinheiro no bolso
saúde pra dar e vender
Para os solteiros
Sorte no amor
Nenhuma esperança perdida
Para os casados
Nenhuma briga
Paz e sossego na vida

Informação retirada do site: http://www.suapesquisa.com/musicacultura/musica_ano_novo.htm

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

OXUM, A ORIXÁ DE 2011.


Para quem curte, e aos umbandistas de fim de ano, informo que o Orixá regente de 2011 é mãe Oxum, a deusa da fertilidade, a orixá das águas doces, rios e cachoeiras, logo é mãe água. Sua cor é o amarelo, em todos os tons. Seu prato a canjica, o mamão e o mel. Em mãe Oxum, os fiéis buscam auxílio para a solução de problemas no amor, uma vez que ela é a responsável pelas uniões, e também na vida financeira, a que se deve sua denominação de "Senhora do Ouro”. Seu dia da semana é sábado.
Nas religiões afro-brasileiras é sincretizada com diversas Nossas Senhoras. Na Bahia, ela é tida como Nossa Senhora das Candeias ou Nossa Senhora dos Prazeres. No Sul do Brasil, é muitas vezes sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, enquanto no Centro-Oeste e Sudeste é associada à denominação de Nossa Senhora da conceição Aparecida.
Seus filhos e filhas são doces, sentimentais, agem mais com o coração do que com a razão e são muito chorões. Também são extremamente vaidosos e conquistadores, adoram o luxo, a vida social, além de sempre estarem namorando.
Oxum é a padroeira da gestação e da fecundidade, recebendo as preces das mulheres que desejam ter filhos e protegendo-as durante a gravidez. Protege, também, as crianças pequenas até que comecem a falar, sendo carinhosamente chamada de Mamãe por seus devotos.
Então, quem desejar amor e dinheiro deverá vestir branco e amarelo. Ou ainda, branco com muita bijuteria dourada!
Feliz 2011.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Meu Melô!




Rita Lee e Roberto de Carvalho
(1980)
Se Deus quiser, um dia eu quero ser índio
Viver pelado, pintado de verde num eterno domingo
Ser um bicho preguiça e espantar turista
E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, sol

Se Deus quiser um dia acabo voando
Tão banal, assim como um pardal, meio de contrabando
Desviar de estilingue, deixar que me xinguem
E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, banho de sol

Baila comigo, como se baila na tribo
Baila comigo, lá no meu esconderijo

Se Deus quiser um dia eu viro semente
E quando a chuva molhar o jardim, ah, eu fico contente
E na primavera vou brotar na terra
E tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol, sol

Se Deus quiser um dia eu morro bem velha
Na hora "H" quando a bomba estourar quero ver da janela
E entrar no pacote de camarote

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Helga e a simpatia para Ano Novo.


- O que foi Helga, porque este sorrisinho dissimulado?


- Não foi nada não, só estava lembrando de um reveillon. - deu uma gargalhada e como é muito barriga fria, não aguentou. – Sabe Dinorah, uma vez fui convidada para o reveillon na casa de uma amiga muito chique. – desconheço qualquer amiga da Helga que não seja “muito chique”, ela só se dá com nobres, ricos, chiques, bonitos e charmosos. – Quando a minha amiga me convidou, perguntei se precisava levar alguma coisa. Minha amiga muito chique disse que não precisava levar nada, só a simpatia. Imediatamente, me destrambelhei rua a fora, percorri todas as lojas de artigos de candomblé e umbanda. Descobri que o orixá regente do próximo ano seria Ogum, e as cores eram vermelho e verde. Comprei várias peças de fitas com as cores do ano, patuás, folhas de louro. Uma mãe de santo de plantão falou que, na virada do ano, deveria tomar um banho de pipoca e milho, em uma encruzilhada. Providenciei tudinho, nem a água de cheiro deixei faltar.


- Você não levou arruda, Helga? Levou? – será que a maluca seria capaz de levar aquela erva tão fedida numa festa tão chique?


- Claro que sim, aquilo fedia como o quê! Cheguei, na casa da minha amiga chique, cheia de pacotes e sacolas. A festa estava rolando, muito champanhe e música, todos de branco na volta de uma imensa piscina. Fui de convidado em convidado amarrando fitas coloridas no pulso de cada um, distribuindo patuás, folhas de louro, o tal raminho da fedida arruda. Ensinei o mantra do ano a todos. Próximo da meia noite, convoquei os amigos para irem até a esquina – para o banho de pipocas e milho. Por sorte a mansão da minha amiga era em uma esquina do também, muito chique, condomínio. Fiz o maior alvoroço. Joguei pipoca e milho em cima de todo mundo. Era pipoca e milho esparramados para todos os lados. Enquanto jogava a pipoca, rodava em círculos, como a mãe de santo havia me ensinado, sete vezes para um lado, sete vezes para o outro, repetindo o mantra do ano. - imaginei aquela criatura gorducha, toda de branco, rodando feito uma pomba gira acima do peso, e soltei uma gargalhada, enquanto ela continuava. - Dinorah, a festa foi até o amanhecer. Tomei um maravilhoso porre de champanhe – era dos bons, coisa de gente rica, sabe? Estava atirada num canto do jardim, virada num bagaço, quando uma mocinha veio falar comigo. Perguntou se eu era mãe de santo. Falei que não - juro que não entendi e perguntei o porquê de sua indagação.


- Por causa do ritual da meia noite – respondeu a mocinha com uma cara de pateta.


- Ah! Querida, é que sou muito amiga da anfitriã e ela me pediu que trouxesse a simpatia – juro que fiquei meio sem graça. Será que exagerei? Quem sabe só uma folhinha de louro fosse o suficiente? – Foi quando a dona da casa, que ouviu a conversa interferiu:


- Helga, eu lhe disse que não precisava trazer nada. Só a simpatia. A sua simpatia!

.......................


- ...Dinorah, este ano a gente só precisa vestir branco, pular sete ondinhas, repetir o mantra do Gilson Chvei Oen – “Tudo perfeito e maravilhoso 2011”, mais umas folhinhas de louro...


- Helga chega! Lá vem você com seu excesso de simpatia!

Oscar Niemeyer completou 103 anos!

Do que um gênio é capaz!

"Ele (Niemeyer) gosta de manter a cabeça ocupada o tempo todo e por isso nunca pensou em parar de trabalhar", explicou à Agência Efe Vera Lucia Niemeyer, a mulher que o arquiteto se casou às escondidas aos 98 anos e que foi sua principal auxiliar por mais de 10 anos.

Nem a idade nem os problemas que o levaram ao hospital por várias vezes nos últimos anos impedem que Niemeyer trabalhe normalmente.

"Por que seria diferente com o trabalho? Ele vive tranquilamente, tem uma dieta normal e segue tomando seu vinho. A única mudança é que parou de fumar há três meses", garantiu Vera Lucia.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Helga e a nobreza.


Acho Helga uma boa pessoa. Tem lá seus defeitos, mas tudo compreensível e razoável. Que é muito exibida, todo mundo já sabe, mas ultimamente anda impossível. Deu para jurar que tem um amigo conde. Ora, já expliquei para ela que o Brasil é uma república e não monarquia então, títulos de nobreza não existem. De que adianta? A exibida segue afirmando que se existisse monarquia, seria amiga de um conde sim!
- Dinorah, você não entende nada de nobreza, não tem nenhum amigo nobre por isto, que você implica com minhas amizades. Aliás, ele nunca me disse que era conde, eu é que descobri, sem querer, você sabe o quanto sou abelhuda. Vou lhe explicar como um conde de comporta e então você vai entender por que tenho tanto orgulho de ser amiga de um. – Se empolga e começa a enumerar uma ladainha de qualidades de seu amigo conde.
- Helga, você já me falou tanto deste amigo, vai falar outra vez?
- Vou! Talvez assim você aprenda que um conde em primeiro lugar fala baixo, não ri alto, se veste com elegância. Tem modos diferentes dos plebeus. Tem uma conversa agradável, entende de teatro, cinema, literatura, fala várias línguas, conhece o mundo todo. Sabe apreciar bons restaurantes e bons champanhes. Sabe até jogar besigue.
- Helga, você sabe ser chata! Sei que você é bem fantasiosa, deve ter conhecido algum pilantra que lhe disse que era conde e você caiu como uma pata gorda.
- Deixe de ciúmes Dinorah! Não precisa me jogar na cara que eu só andava com marginal. Eu sei bem que conheci um monte de pilantras, alguns que até roubavam cinzeiros nos restaurantes, outros que adoravam comer pastel na zona norte, ou cachorro quente de balaio na zona sul. Teve até um que me trouxe uma encomenda do exterior, eu paguei o valor que ele falou, só não converti os dólares - mas aí a pilantra fui eu. – ela fala isto e disfarça um sorrisinho de quem se deu bem. - Tá bom, estes existiram sim, mas eu também conheci um conde, não adianta você ficar com ciúmes só porque você nunca conheceu um. Lembra do Raul Cortês quando fez uma novela onde era um barão, casado com a Glória Meneses? O meu amigo é assim gentil como o barão da novela, só que o meu amigo é CONDE – fala isto bem alto, com um imenso peso no ene de coNde. – e conde é mais que barão, então você imagine só como o meu amigo é educado e gentil.
Ás vezes penso que esta gorducha anda assistindo muito filme – já é íntima da Scarlett O’Hara, trata a Glória Pires como amiga de infância, adora fazer compras na Rodeo Drive com a Julia Roberts e agora resolveu que tem um amigo conde. Resta uma dúvida, nunca tive coragem de perguntar, mas hoje ela me paga:
- Helga, então me explique como é que um conde tão chique pode ser amigo de uma plebéia tão destrambelhada?
- Bem Dinorah, é que agora o Brasil é uma republica! – dá uma gargalhada como quem diz: peguei um bobo na casca do ovo. – Helga está cada dia mais caduca, ora, onde já se viu um conde ser amigo deste estrupício.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Helga chorando?


Hoje dei uma passadinha na casa a Helga. Bati na porta e levei o maior susto. Helga me atendeu com o rosto inchado de tanto chorar. Assustada, perguntei o que havia acontecido, tivesse esperado um segundo, teria evitado a pergunta. Sobre o sofá, várias almofadas, na mesinha de centro, cigarro, isqueiro, cinzeiro, uma bacia de pipocas, bombons, coca zero, e uma enorme caixa de lenços de papel - arsenal completo para três horas de filme.
- Entre Dinorah, estou assistindo “E o vento levou”, está bem naquela parte em que a Scarlet cai da escada, adoro chorar com este filme!
Eu devia saber, Helga gosta muito de cinema, assiste de Mazzaropi a Wim Wenders, mas tem dois filmes que acredito que ela assista no mínimo uma vez por mês –“E o Vento Levou” e “Uma linda Mulher”. Ela sabe todas as cenas e diálogos de ambos. Acomodo-me no sofá, me sirvo de coca zero. Ela me estende a caixa de bombons enquanto diz que não consegue tomar coca zero sem um chocolate depois, é a melhor combinação do mundo! - Dá uma risada e, parafraseando Scarlet, afirma com convicção:
- “Nuca mais passarei fome!” – e, com a boca cheia de chocolates dá uma de suas gargalhadas. – Sabe Dinorah, eu acho a Scarlet maravilhosa, gostaria de ser determinada como ela, mas como sofreu a bichinha! Aquele Rhett, o que tinha de gostosão tinha de sem vergonha. Ela, também era bem uma patricinha, tenho pena da pobrezinha da Mammy que aturava as manias da dondoquinha. – Aperte mais Mammy! – Helga imita Scarlet dizendo para a escrava apertar-lhe mais o espartilho, - enquanto fala, encolhe a barriga, como se o espartilho estive sendo apertado em sua cintura.
Helga tem uma intimidade com os personagens, é como se fizesse parte do elenco, fosse uma das amigas da orgulhosa Scarlett O’Hara.

Ontem assisti “Uma linda mulher” – a parte em que mais gosto é aquela...
- Aquela em que o Richard Gere sobe a escada e chama a Princesa Vivian? – interrompo.
- Não, não. Esta é legal, mas a que eu mais gosto é aquela em que a Julia Roberts está fazendo compras na Rodeo Drive, cheia de sacolas, e toca aquela música "prety woman, walking down the street, tarãra rã rã” – Helga levanta do sofá e começa a cantar e dançar. Está com um camisetão enorme aparecendo as calcinhas. Dança e canta feliz da vida, ainda sobram alguns resquícios do vento levou, uma ponta de nariz vermelho, mas ela já está em outro filme. Reparo que está com as calcinhas viradas, vestiu a frente para as costas.
- Helga, suas calcinhas estão viradas, você vestiu ao contrário.
- Não vesti não – continua cantando, agora dança em cima do sofá – é assim que eu gosto. Eles fazem estas calcinhas para quem tem bunda e não tem barriga. Eu tenho barriga e não tenho bunda, então descobri que assim, ao contrário fica muito mais confortável – “Pretty Woman tarãrã rã rã Prety Woman tarãrãrã..
A Helga tem tudo para ser a Mammy, mas jura que é a Julia Robert, fazer o quê?


“...pretty womann...tarãrãrã rã...”




domingo, 12 de dezembro de 2010

Hilda está vindo!


A Helga está feliz da vida – mais feliz do que o normal – contou que recebeu um telefonema da Hilda, dizendo que virá visitá-la no final de janeiro.
- Dinorah, mal posso esperar! A Hilda vem me visitar – dá pulinhos de faceira – Adoro a Hilda, ela é tão cheia de novidades, sempre tem um novo ponto de tricô ou uma receita diferente, mas o que eu gosto mesmo é do pão sovado que ela faz, é igualzinho ao que nossa avó fazia. Você sabe não é Dinorah, que a Hilda sempre vem carregada de um sortimento de linguiças, murcilia (morcela), queijo de porco, griber (torresmo) schmier (geléia) de uva, – é a Hilda que faz tudo, já deve estar até matando o porco para fazer as delícias.
A gorducha lambe os beiços e revira os olhinhos quando fala da visita da irmã. Mas sei bem por que Helga adora a visita da irmã – elas põem o Adolfo a fazer caipirinhas, bebem como duas gambás e, em dueto, gargalham do jeito que o pai sempre disse para não fazerem. Sem contar que Hilda também trás um estoque de vinhos e uma garrafona de Underberg, um bitter sem o qual a magrela não vive, diz que faz bem para o estômago, entre uma caipirinha e outra toma um gole do amargo. Elas bebem, fumam e o Adolfo nem se mete, também adora a visita da Hilda. É quando ele pode beber, sem que Helga fique contando o número de latinhas que já abriu. Enche as duas de caipirinha enquanto acaba com o estoque de cerveja.
Viva a Hilda!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Helga e a sinceridade.

Como já havia dito, encontrei a Helga na praia. Estava com o duas peças de oncinha, um chapéu imenso e um enorme óculos de sol. Na praia todos conhecem Helga. - ela não passaria desapercebida nem nas Americanas em véspera de natal.- Estava feliz, um copo de cerveja em uma das mãos e o cigarro na outra.
- Dinorah! Que bom que você veio! Pensei que fosse passar o dia como uma velha, esgravatando aquele jardim. Como está quente! Já tomei vários banhos de mar, estava pegando jacarés com o Adolfo. – como sempre, ela fala muito, sem parar.
- Helga, agora você pode bronzear a barriga.
- Você gostou? – mostra o modelo fazendo pose, girando o corpão para um lado e para outro - O Adolfo disse que eu fiquei bem e eu estou me adorando! – nisso passou uma moça muito bonita, ela parou de falar, se virou acompanhando a moça com o olhar – viu só que moça bonita? Ela é parecida com aquela uma, sabe aquela que tem uma boca que arrebita nos cantos, a filha da Glória Pires. A Glória eu acho um amor – fala com uma intimidade que parece que foram criadas juntas – mas a filha dela eu acho uma chatinha, e aquele irmão da filha? Aquele parece um sabiá que caiu do ninho, que duas criaturinhas mais chatinhas, devem ter puxado ao pai, não gosto dele, também acho um chato de galocha. Acho que a Glória deve pensar onde é que estava com a cabeça quando se apaixonou pelo chato-pai, teve a chata-filha, por sorte não é mãe do chato-filho, aliás, é a família mais chatonilda que conheço
- Helga, você não devia falar mal de quem não está presente.
- Eu sei que é feio, que é falta de educação falar mal pelas costas, mas vou lhe dizer uma coisa. Eu sou do tipo que já aviso antes: quem quiser falar mal de mim, fale pelas minhas costas, odeio este negócio de gente super sincera que fala na cara. Acho uma falta de respeito. Se for para falar bem, pode falar na cara, mas mal? Por que é que eu preciso ouvir tudo o que já sei? Será que as pessoas não sabem que eu sei quando faço uma coisa errada? Claro que sei, não preciso ouvir mais crítica sobre o que já estou me criticando – então, se for para falar mal, falem pelas costas, não me importo. - fala tudo isto com muita calma e concluí que - chega de assunto sério, - assunto sério? - vamos pegar uns jacarés, estou com muito calor.
A gorducha linguaruda tem cada uma... assunto sério...
- Vem Dinorah, pega esta! Vai dar um jacaré dos bons! - e lá se vai ela, embolada na onda, batendo os pezinhos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Helga e a Comadre Blonde.

- Huhu! Aqui Dinorah! – era ela, na porta do shopping, acenando com a mão, dando o seu gritinho característico o huhu!, como se eu não tivesse visto aquele enorme jardim, que não era suspenso, mas bem poderia ser ambulante. - Que bom que você é sempre pontual, Helga. – ela é ansiosa demais para chegar atrasada, está sempre na frente. Como não encontrá-la? Estava com um vestido de floreado. - Gostou do meu vestido de flores? Cansei de andar com aquela bicharada, as onças, leopardos e zebras, o Adolfo disse que, qualquer dia destes, eu levaria um tiro na bunda, de algum caçador distraído. – falou isto e soltou uma de suas gargalhadas. Quem ainda não havia reparado no “jardim” agora já a teria visto. Todos que estavam nas redondezas se viraram para ver de onde vinha a gargalhada. – Com esta estampa, só quero borboletas e beija-flores na minha volta. – o bom que ela não precisa que lhe digam nada, assume o que gosta e pronto.

-Dinorah, a gente podia merendar antes de fazer as compras, assim baixo minha ansiedade. Na confeitaria pediu uma fatia de Marta Rocha com chá sem açúcar, para não engordar. - Dinorah, eu adoro nozes dizem que tem ômega3, por isto acho que vou pedir mais uma fatia. De repente surgiu uma mulher loura, alta, magra, muito bronzeada, toda vestida de azul calipso, cheia de colares, toda charmosa. Usava muitas pulseiras em um dos braços, no outro um enorme relógio dourado com o mostrador azul, as pedras de alguns dos colares também eram azuis. As duas se olharam e, de imediato, se abraçaram fazendo um alvoroço. Falavam alto, riam. Ambas soltavam o mesmo tipo de gargalhada, estavam muito felizes por se reencontrarem. - Dinorah, deixe lhe apresentar. Esta é minha Comadre Blonde, ela não é linda? Feitas as apresentações, a Comadre Blonde enturmou-se e as duas não pararam mais de falar e rir, tudo muito alto. Lembravam de histórias antigas e davam gargalhadas. - Helga você está muito bem. Esta roupa florida ficou ótima! - a voz da Comadre era de quem fumava muito – depois soube que ela fumava até debaixo do chuveiro, se é que isto é possível. Daí para frente Comadre Blonde passou a falar e fiquei sabendo um pouco sobre ela. Lá pelas tantas disse que sua musa inspiradora era Adriane Galisteu – eu sabia que já tinha visto aquela mulher em algum lugar, era parecidíssima com a Galisteu – adorava jóias, tinha até um fornecedor exclusivo, que lhe vendia no domicilio. Quando Helga tinha alguma festa chique pedia as jóias da Comadre emprestadas, Blonde também era muito generosa. - Comadre Blonde, que coisa mais linda sua sandália! – na mesma hora, não sei como pode, a até então tão elegante Comadre Blonde, espichou aquela longa perna e colocou o pé em cima da mesa, exibindo a sandália, para o espanto de todos na volta. - Pois eu também Helga, achei maravilhosa esta sandália. É italiana! Paguei uma fortuna por ela!

Embasbacada com a cena entendi a amizade sincera entre as duas – eram iguais. Uma mais discreta do que a outra!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Imagem de Natal



Esta obra, desejando Feliz Natal, foi publicada por Odilon Trindade, em seu Blog IMAGINAÇÃO E IMAGEM. Gostei tanto que pedi autorização para publicar no blog da Dinorah. Aconselho uma visita por lá, o cara faz coisas incríveis.
http://imaginacaoeimagens.blogspot.com/

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Falta de foco, ou vivendo a vida.


Sabe quando a gente tem alguma coisa para fazer e fica adiando? Assim eu estava fazendo com o meu jardim. Já devia ter semeado novas plantinhas, mudado a terra, enfim, dado um trato, mas fui adiando, adiando, até que ontem, resolvi tomar vergonha na cara e fui para a lida! Peguei toda a traquitana de jardinagem e mãos a obra.
Estava com tudo esparramado, o pátio cheio de baldes, bacias, vassouras, sacos de terra e adubo, suando como uma porca, quando o Alberico teve a brilhante idéia;
- Dinorah, o dia está lindo, vamos para a praia?
Na mesma hora, literalmente, chutei o balde e me mandei para a praia. Estava ótimo, solzão, marzão, cervejão, cocão.
Quando cheguei em casa, olhei para o jardim – agora vocês estão imaginado que eu vou contar que me deparei com o jardim mais lindo do mundo, todo arrumadinho, limpinho, os apetrechos todos guardados e as sementinhas brotando? – nada disto. As fadinhas do jardim não vieram, continuava tudo esparramado como deixei, parecia que um furacão havia passado, mas fazer o quê? A praia estava uma delícia e este dia não voltará mais, acho que fiz uma bela aplicação na bolsa de valores dos prazeres da vida

Carpe Diem!



ps.: encontrei a Helga na praia - esta parte conto amanhã.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Sonho de um dia de verão de 1961.

Como é que alguém que só tem seis anos pode sonhar que de repente ficou velha? Que o tempo passou muito rápido? Foi o que aconteceu comigo ontem. Sonhei que havia se passado muito tempo, que eu era bem velhinha, enrugada, as pálpebras caídas, óculos na ponta do nariz, queixo duplo, papada, cabelos brancos, sentia umas dores esquisitas pelo corpo. Senti medo daquela velha. Ainda bem que meu irmão me acordou.
- Acorda, tu não queres ir à praia?
Nada como um banho de mar, castelos na areia, muitas brincadeiras - e a velhinha do sonho, que fim terá levado? – tomo banho de mar com meu pai e meus irmãos, minha mãe nos observa feliz, sorrindo, lá da praia.


...e a velhinha? a velhinha que se dane!

As compras de Helga


- Hu Hu! Dinorah?!
Já conheço este hu hu! É ela gritando lá no portão
- Entre Helga! Cheia de sacolas, imagino que tenha ido às compras?
- Pelo amor de Deus! Consegue um talquinho? – joga as sacolas em cima da mesa e se estatela na poltrona – fazer compras no verão é um sacrifício. Não, não é sacrifício, comprar sempre é bom, eu quero dizer, andar na rua neste calor é difícil, fico com as pernas assadas. – vai falando enquanto esfrega o talco nas coxas assadas de tanto roçarem uma na outras, soltando gemidos de alívio
- O que você comprou? O que é que tem dentro destas sacolas?
Ela se faz de sonsa. Faz de conta que não quer mostrar o que comprou quando na realidade é tudo o que quer.
- Pois é, nem queria mostrar, queria fazer surpresa. Quando nos encontrássemos na praia você veria a novidade.
- Comprou maiô novo?
- Que maiô que nada! Enchi saco de usar essas coisas de velha. - puxa da sacola um duas-peças de oncinha. Oncinha? Estou sendo generosa, devia ser uma onça adulta e muito bem criada, era muito pano. – este negócio de não mostrar a barriga só por que se está uns quilinhos a mais, não tá com nada. Este ano vou bronzear tudo!
Estica o bustiê sobre aquela montanha de peitos e se auto elogia,
- Ficou bom não é? Deixa eu te mostrar o resto – agora se empolgou, ninguém mais segura - comprei um baby dol de cetim dourado que é um luxo! Só quero ver o que o Adolfo vai achar – dá uma risadinha marota, os olhinhos deixam transparecer as más intenções da criatura. De repente fica séria, faz um muxoxo, segura o baby dol contra o peito e diz que nem sabe bem por que o comprou. - Sabe Dinorah, aquele fogo que eu tinha? Pois é, ultimamente nem ando assim tão chegada no esporte, mas eu é que não vou falar nada para o Adolfo, vá que ele arranje outra para apagar o dele – ela adora falar do fogo do Adolfo, do quanto ele é insaciável, mas tenho minhas dúvidas de qual dos dois está com a chama mais fraca, logo ela que adora dizer que conhece tudo de sexo, que já leu o Kama Sutra de cabo a rabo, sem contar um artigo muito bom - “1.001 Maneira de Enlouquecer um Homem na Cama”, que leu em uma NOVA, em mil novecentos e se virando, quando tinha vinte anos, e guarda até hoje na cabeceira da cama.
De outra sacola tira muitos cortes de tecido, um verdadeiro zoológico, onças, tigres, zebras, jacarés. Reclama que só fazem roupas para anêmicas, razão pela qual vai procurar uma costureira para fazer uns modelos exclusivos.
- Outro dia, a moça da loja, me mostrou um vestido, falou que aquele deveria me servir, era XL. Quem disse? Faltou mais de palmo e meio para fechar. Aquilo me irritou tanto, falei para ela que aquele XL deveria ser o ” XiseLe Bündchen”, de tão pequeno e jurei que nunca mais entraria naquela loja.
Helga não é nada discreta, não tem um pingo de compostura. Lembrei de um passeio que fizemos ao zoológico. Quando chegamos frente a jaula do tigre, um bicho enorme, lindo, e ela deu um suspiro e exclamou:
- Nossa! Que casaco lindo!
Tampouco é ecológica...




quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

4 de dezembro dia de Santa Bárbara e Iansã


Santa Bárbara A liturgia católica conta que Santa Bárbara era muito bela e que seu pai, com muito ciúme, a trancou numa torre com duas janelas, para não arranjar pretendentes. Durante uma viagem do pai, ela decidiu ser batizada cristã, pedindo para abrir mais uma janela na torre, como homenagem a Santíssima Trindade. Quando seu pai voltou, ficou furioso, provocando a fuga da filha. Porém, ela foi denunciada, condenada e, depois, executada por seu pai, que lhe cortou a cabeça. Após a execução o pai teria sido atingido por um raio. Iansã Já no sincretismo com o candomblé, a santa se assemelharia a Iansã, divindade dos ventos, tempestades e raios. Nas lendas yorubanas, Iansã foi a primeira mulher de Xangô, do qual ela roubou o segredo cuspir fogo e chamas pelo nariz e pela boca. Antes de ser mulher de Xangô (São Jerônimo), Iansã viveu com Ogum (São Jorge), de quem fugiu para viver com a divindade dos trovões e da justiça. Isso despertou a revolta de Ogum, que decidiu perseguir os dois. Numa luta com Iansã e seu rival Xangô, Ogum a dividiu em 9 partes, e esse número está na origem do seu nome, Iansã. Dia da semana – quarta-feira Saudação: Epa hey Oya! Oração de Santa Bárbara Santa Bárbara bendita Que no céu está escrita Com papel e água benta Nosso senhor nos livre desta tormenta Santa Bárbara se vestiu e se calçou Ao caminho se deitou Jesus Cristo a encontrou e lhe perguntou: - Onde vais Bárbara? - Vou a Jerusalém, arramar esta trovoada Onde não haja pão nem vinho Nem flor de rosmaninho Oração de Santa Bárbara Santa Bárbara bendita, que no céu está escrita com isope de água benta abrandai esta tormenta fazei que vá para longe, onde não haja nem pão nem vinho, nenhum só filho de cristão.

(oração que a Lúcia aprendeu com a vó Picucha)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Helga e as garoupas.


Cedo da manhã encontrei com Helga. Ela estava alegre, saltitava batendo os joanetes um no outro, assim como o Carlitos fazia com os calcanhares - a Helga que não me ouça, mas os joanetes dela parecem duas alegorias do Joãozinho Trinta. Bem feito, quem mandou passar a vida com os pés enfiados em bico fino e salto 10? Eu nem toco no assunto dos joanetes, terei que ouvir pela milésima vez que ela não entende como é que aquela mocinha tão bonitinha, a Rosana Jatobá, pode prever o tempo, se ela nem tem joanetes para doer quando vai chover?
- E daí Helga como é que vai a vida?
- Eu vou bem, na mão de Deus e na boca do povo! – fala isto e solta uma gargalhada estrondosa, aquelas que seu pai sempre criticou, na infrutífera tentativa de educar-lhe. Seu pai dizia que não ficava bem uma moça dar estas “gaitadas de galpão”, mas parece que ela se especializou neste tipo de risada - nem te conto: recebi o “décimo”, estou com a carteira cheia de garoupas, todas azuizinhas, a coisa mais lindinha! Você sabe, para mim não tem este negócio de tomar remédio para depressão. Nada de prozac, zoloft, eufor, para depressão, bom mesmo é um cardume de garoupas. Não tem depressão que me pegue.
- Helga, você... – é inútil tentar falar, ela não ouve nada, só fala
- Sabe Dinorah, ando com vontade de comprar um computador, um bem pequeninho, só para fazer palavras cruzadas, o moço da loja me disse que não existe um só para palavras cruzadas. Eu não quero um computador que faça um monte de coisas que eu nem sei fazer. Pra quê? Eu só gosto de fazer palavras cruzadas, é bom – ou será mau? – para o Alzheimer. Ele, o moço da loja, quer me vender um cheio de outras coisas só por que é mais caro, para ganhar uma comissão maior.
A gorducha é exibida! O sonho dela é ter uma poupança igual a da irmã Hilda, mas ela é meio estrabulega, não é chegada em poupar, basta ter uns trocos que já quer jantar fora – como gosta de jantar fora!
Ela fala, fala, e eu só fico pensando, como é que um ser humano destes se criou?
Outro dia, parecia um cardeal, aquele passarinho que tem a crista vermelha. Cortou os cabelos e tacou um vermelho-incêndio e estava se achando a coisa mais linda. Ela anda impossível, e o pobre do Adolfo que ature a velha caduca.
- Tchau Dinorah, vou retocar a raiz (dos cabelos)hoje à noite vou jantar fora com o Adolfo!

E lá se vai a primeira garoupa...



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Natal - parte l


Todos os anos era a mesma coisa. Nesta época do ano a mãe se esmerava. Era chegado o momento de fazer as compotas de doce de figo, pêssego, ameixinha, “schmier” de uva, pêra, maçã, os picles de cebolinha, pepino, cenoura, os biscoitos de mel, amanteigados, polvilho e as famosas “bolachinhas de natal”. A mãe era incansável nos preparativos. A função começava por estes dias, final de novembro, um mês antes do Natal.
A largada era dada com as compotas. Era um tal de descascar frutas, ferver e esterilizar vidros – que fim terão levado os famosos “Vidros Rex” – Panelas enormes, cheias de água, com panos entre os vidros, para que não quebrassem, pareciam ferver o dia inteiro.
Nesta lambança as crianças eram corridas da cozinha – mas se a ordem tivesse sido cumprida, como é que se lembra de tudo isto?
Após mais ou menos uma semana, finalizado o trabalho - acredita que eram cerca de uns quarenta vidros de doces em calda, picles e “schmier” – expostos em prateleiras, provocavam uma visão bonita e deliciosa. A mãe orgulhosa de sua obra, os filhos, orgulhosos da mãe. Permaneceriam ali até que chegassem uma visita ou data especial. Deveriam durar até a próxima estação das frutas, quando tudo se repetiria.
Encerrada a etapa das compotas, iniciava-se a dos biscoitos e bolachas de Natal. Esta parte era a melhor, as crianças podiam ficar na cozinha, enfarinhando formas, cortando a massa com os moldes – sino, anjo, papai Noel, estrela, coração – também eram encarregadas de decorar os biscoitos, passando a cobertura de açúcar colorido. A casa era invadida pelo aroma de mel, cravo e canela – o cheiro típico do natal
As bolachas enchiam grandes latas de banha, que anteriormente haviam sido pintadas e decoradas com flores de “decalcomania” – isto ainda existe? Muito bem fechadas, eram escondidas em grandes armários com o intuito de não dar muita facilidade aos gulosos que as rondavam na espreita de um descuido qualquer da mãe. Cada especialidade levava um dia ou mais para ser feita, e assim, lá se ia a segunda semana.
Também era a única época do ano em que se fazia o delicioso capilé. Vários litros de vidro, tampados por uma rolha, continham a calda de açúcar e essência de framboesa – um xarope espesso que misturado com água se transformava em “gosto de natal”.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Natal - parte ll

A próxima etapa era a “faxina de fim de ano” – bom, nesta hora as crianças eram catadas a força, nenhuma queria participar. Limpar paredes, tirar o excesso de cera do assoalho, arrumar armários, lustrar alguma prataria. A mãe gostava de pintar as cadeiras e mesa da cozinha, fazia isto todos os anos, as crianças não gostavam da parte de lixar, mas adoravam um pincel e uma tinta!
Enfim, chegava a “semana do Natal”, na qual as crianças tinham grande participação. Ajudavam a pintar o papel do presépio – era uma mistura de goma com anilina espalhada num enorme papel kraft. Misturavam-se o vermelho, azul, amarelo – teria que ficar um aspecto de pedras. O papel serviria de fundo para se moldar uma gruta que abrigaria o Menino Jesus, Maria e José. Crianças providenciavam em caixas, pedras, barba de pau, tudo para decorar o presépio. Era uma semana de muitas atribulações.
No dia 24, pela manhã, chegava o pinheirinho que havia sido encomendado antecipadamente, o ideal é que fosse bem gordinho e alcançasse o teto. A árvore era colocada na sala de visitas, as crianças todas ficavam eufóricas com aquela função, era sinal de que realmente o dia havia chegado.
Árvore no devido lugar, admiravam o símbolo, comentavam, riam e eram convidadas a sair da sala cuja porta era chaveada. A partir deste momento, elas só voltariam a vê-la quando já fosse noite.
Naquele dia, o almoço era alguma coisa rápida, pois toda a atenção da mãe e da irmã mais velha era dirigida a ceia da noite. Preparar o sarrabulho, rechear e assar o peru, fazer a farofa, arroz de festa, saladas e sobremesas.
Depois do almoço começava um entra e sai da sala de visitas. O pai, a mãe e a irmã, passavam com muitas caixas onde estavam guardados os enfeites, o presépio, as guirlandas. Crianças não podiam ver nada.
...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Natal - parte lll


Aquele dia era totalmente atípico, crianças obedeciam ao primeiro chamado, tentavam não brigar entre si – coisa rara – e, sem que ninguém mandasse, às seis horas da tarde, estavam todos de banho tomado, cabelos penteados, arrumados com suas melhores roupas. Os maiores cuidavam dos menores ajudando a colocar a mesa da ceia, que naquela noite ficava muito bonita, decorada com a toalha de brocado branca, talheres, louças e copos de festa.
Assim que escurecia, o jantar era servido. Rezavam, como sempre faziam, antes das refeições. A comida de Natal era muito gostosa. Todos elogiavam, as crianças cuidavam para não deixar cair migalhas na toalha. Neste dia, o guaraná era liberado, podia-se beber o quanto bastasse para matar a sede, a gula. Mas não se poderia dizer que era uma refeição tranquila, os corações estavam aos pulos para saber como estaria enfeitado o pinheirinho, o presépio e quais seriam os presentes.
Acabada a saborosa e ansiosa refeição, as crianças maiores tomavam a frente para lavar a louça – os menores secavam. Só após é que receberiam os presentes – nunca se viu tanta criança com tanta vontade de lavar e secar louça, aquela tarefa se esgotava quase que em segundos.
Tudo limpo, tudo organizado, eis que chega o momento mais esperado do ano.

...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Natal - fim .



O pai e a mãe abrem a porta da sala e de imediato, o bando de crianças exclama um sonoro e prolongado “aaaah!” num misto de surpresa, encantamento e felicidade.
O pinheirinho está lindo! Decorado com o pisca-pisca e bolas coloridas. Lembra que uma das luzinhas era uma carinha de papai Noel e, em meio a tantos enfeites de natal, todos anos procuravam uma bola prateada, mais pesada do que as outras, diferente,aquela tinha uma história - o pai do pai comprara quando este ainda era um menino. Aquele era um enfeite especial - lembrava o avô que não chegaram a conhecer.
Após as exclamações de admiração, rezavam e cantavam “Noite Feliz”, uma das irmãs nunca conseguia cantar até o final, quando chegava na parte ...”pobrezinho nasceu em Belém...” caia em prantos, se emocionava e chorava, achava aquela canção linda, mas muito triste.
Recebiam os presentes. Bolas, bonecas, panelinhas, carrinhos, sapatos e roupas. Não se pode esquecer, que em determinados anos, junto com os presentes, algum menino recebia uma vara de marmelo em razão de comportamento não muito exemplar, servindo mais como brincadeira do que advertência. Falavam alto, riam felizes, brincavam com os presentes, exibindo-os uns aos outros.
Nesta noite eram servidos os doces, biscoitos e o capilé. O Natal tinha cheiro de pão de mel e gosto de capilé. ...e aquela gotinha de tristeza, de onde viria? seria por conta do "pobrezinho que nasceu em Belém?

Meditação


Feche os olhos, relaxe. Imagine que você está numa pequena baia de areias brancas, ao fundo, um mar cor de esmeralda com águas mornas e transparentes. Acima, um céu muito azul. Uma brisa suave farfalha nas folhas verdes dos coqueiros. Sinta o cheiro do mar, a brisa amenizando o calor do sol. Ouça o murmúrio das ondas e os pássaros cantando na mata.
Suaves como anjos, quase flutuando no ar, São Manoel, São Jurandir e São Tiago recebem mártires e pecadores, com água de coco, frutas, cerveja gelada e tapioca.
Agora, lentamente, abra os olhos, observe ao redor. Você não morreu e chegou ao paraíso, nada disto. Você está muito vivo e está em uma das praias da Marambaia. Onde o sonho não acabou, pois logo, logo, um Marajá imponente virá lhe perguntar se você quer - o sonho - de goiabada ou doce de leite.
Daí me pergunto:
O que é que estou fazendo neste computador?
Tchau, vou até ali no paraíso, volto mais tarde. Fui!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Para pensar

"Nunca me casei porque nunca precisei. Tenho três bichinhos em casa que, juntos, perfazem um marido: um cachorro que rosna de manhã, um papagaio que fala palavrões o dia todo e um gato que volta de madrugada para casa.

(Maria Corelli, escritora popular inglesa)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Chulé!


Final de ano. As duas estavam ansiosas para embarcar no ônibus, rumo ao litoral, quando uma delas lembrou que se esquecera de colocar os chinelos de dedo na mala.
- Suely, vou comprar uns chinelos.
Suely achou ruim ter que esperar, mas se conformou, assim poderia fumar mais um cigarro.
A outra comprou umas sandálias preto-básico, mostrou para a amiga que, de imediato, constatou que se tratava de sandália pirata. O nome gravado na sola era BAHIANAS. Acharam graça da criatividade do “Seu Pirata” e enfiaram-se no ônibus lotado.
Lá pelo meio da viagem um cheiro horroroso começou a empestar o ambiente, foi quando Suely esbravejou:
- Cadê as tuas BAHIANAS? Este cheiro de chulé só pode ser dessas sandálias fajutas.
Diligentemente, a amiga procurou a sacola com as sandálias e as entregou à Suely,que cuidadosamente, examinou o material. Cheirou de um lado, cheirou de outro e constatou que, as não legítimas, não eram o foco de emissão do odor poluente.
- Este cheiro está insuportável! Este povo porco viaja, tira os sapatos e espalha este chulé! – exclamava – vou vomitar, abre a janela!
Não sossegou, remexia-se na poltrona, reclamava do cheiro em voz alta, espichava o pescoço cheirando tudo. Foi quando enfiou o nariz entre os bancos da frente, parou e, inconformada com a descoberta, jogou-se para trás falando baixinho, com um sorrisinho encabulado, no ouvido da amiga:
- São esses aí da frente comendo cheetos de queijo!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Piadinha


Uma ruiva, uma morena e uma loira, estão correndo, fugindo da polícia. Encontram três sacos vazios e se escondem dentro.
Um policial chega e cutuca o primeiro saco, onde está a ruiva:
- Miau... - responde o saco- É só um gatinho – constata o policial que cutuca o segundo saco, onde está a morena.
- Au! Au!
- É só um cachorrinho – verifica o policial. Em seguida, cutuca o terceiro saco, onde está a loira, que responde:
- Batata! Batata! Batata!


Esta quem me contou foi a “Gauchinha Feliz” quando veio passar férias na Marambaia, dei muita gargalhada, acordei a vizinhança que dormia na areia da praia. Hoje deu uma saudade daquele mimo. Quando será que virá outra vez, para contar piadas, brincar do “o que é o que é?”, jogar UNO?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A mentira.


Tinha uns sete anos morava em um lugarejo lá para as bandas do Botucaraí. Parecia mais um moleque do que uma menina. Andava descalça, e gostava de tomar banho em um arroio que corria nos fundos da casa.
Um dia, ao voltar da escola, notou certo alvoroço. A avó contou que havia se instalado na cidade um bando de ciganos. Ela nunca havia visto ciganos, só em livros de histórias e uma fantasia de carnaval.
- Vocês devem tomar cuidado com os ciganos. Ciganas roubam crianças, escondem-nas debaixo da saia, fogem. Nunca mais ninguém as encontra! – falou a avó.
Meu Deus! Que coisa séria! Como é que podiam fazer isto? Roubar criança pequena! Com cautela, foi até o portão. Será que alguma criança sairia à rua enquanto os ciganos estivessem na cidade? Foi quando avistou Solange, amiga de escola.
- Solange, sabia que tem ciganos na cidade?
- Sei. Até já vi duas ciganas passarem na frente de casa. Fiquei escondida atrás da janela. Elas usam vestidos bem compridos, rodados e coloridos. Também usam muitas pulseiras, colares, brincos.
Apesar do medo, o rosto se iluminou como quem está prestes a assistir um filme de aventura.
- Minha avó disse que eles roubam crianças.
- Minha mãe também. Disse pra tomar cuidado. Quando vir uma cigana, devo fugir.
- Solange, a gente podia ir ali pertinho, só espiar.
Não falaram mais nada. Com o coração aos pulos, foram até a esquina, de onde avistaram enormes barracas. Elas nunca tinham visto barracas tão grandes. Os olhos arregalaram-se e as duas, de mãos dadas, ficaram observando.
As lonas laterais estavam levantadas, conseguiam ver o movimento de mulheres e meninas, todas vestidas de uma maneira estranhamente linda. Tranças negras, saias floridas, muitos enfeites. As crianças brincavam correndo ao redor das barracas. Não se podia entender o que diziam, mas falavam alto, alguns cantavam.
Ficaram ali por um bom tempo, sentido o medo e o prazer de desvendar um outro mundo, totalmente desconhecido para elas. Comentavam baixinho:
- Será que estas crianças foram roubadas?
- Não, acho que não. As crianças estão alegres, estão brincando e parecem felizes.
O tempo passou sem que elas percebessem, até que começou a escurecer, correram de volta para casa. Chegou toda esbaforida, sua avó indagou, por onde havia andado?
Sem saber explicar por que, sentiu uma vontade de contar o que realmente gostaria que tivesse acontecido:
- Vó, a senhora nem sabe! Eu e a Solange estávamos brincando e uma ciganinha veio falar conosco. Ela nos convidou para ir até a barraca dela.
- Criatura, cigana rouba criança! – exclamou a avó assustada.
- Não rouba não, vó. Ela foi muito boazinha, até serviu um cafezinho.
- Eu não acredito! - falou a avó, oscilando entre o medo e a curiosidade.
- É sim, tomamos cafezinho e a barraca é muito linda – aí entrou uma descrição do palácio da Sherazade, princesa dos contos Mil e uma Noites que ela havia lido. Era a coisa mais próxima que sua mente encontrou para descrever o acampamento cigano – muitos tapetes coloridos, a gente senta no chão. A ciganinha nos mostrou os vestidos dela, são de um pano bem fininho e lisinho. Uns tem brilho, outros são transparentes. Muitas pulseiras, colares e brincos, todos de ouro. Ela guarda tudo em um baú enorme com dobradiças de ferro. A mãe da ciganinha convidou para ir lá amanhã.
Quanto mais a avó se emocionava, mais ela enfeitava a história, misturando ciganos com Mil e uma Noites, Sherazade, Ali Babá. Até que julgou estar exagerando e, no exato momento em que pensou em dizer para avó que era só uma brincadeira, chegaram duas senhoras, amigas de longos anos da avó, e ela, imediatamente, lhes contou a história narrada pela neta, cheia de euforia e humor.
Quando viu avó tão entusiasmada, feliz, contando, as gargalhadas, para as amigas e vizinhas, e que não acontecera, ficou com dó. Jamais desmentiu.
A menina cresceu, a avó envelheceu. Morreu velinha, quase cem anos, e sempre que queria contar algo engraçado dizia:
- Esta menina é medonha! Até já tomou café com ciganas. – E mais uma vez, contava a história.
Enquanto isto ela remoia uma culpa doída e pensava:
- Ah! Vó Picucha, perdoe-me pela mentira, tão contada e recontada, mas você sentia tanto prazer e alegria em contar o que não aconteceu que nunca tive coragem de desmentir.
Aquela era uma das histórias prediletas da avó seria muita maldade dizer que não havia acontecido. E depois, que feio seria ter uma avó tão velinha e tão mentirosa!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O retorno do Prafrentex!

Estou muito feliz com o retorno do meu super-prafrentex laptop - o dinossauro-frankstei, definitivamente, deu as uvas e este retornou do conserto.
Aproveito e agradeço ao Cacto Bola pelo conforto e carinho e, exibidamente, agradeço por indicar a leitura das estrepolias de Dinorah - o Cacto é um local onde se encontra muita diversão, humor, filosofia entre outras delícias, sem contar que além de muito bem escrito, é coisa de gente inteligente.
Vale a pena dar uma passada. O Cacto diz que tem espinhos, mas na realidade é muito aconchegante e agradável.http://cactobola.blogspot.com/

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Testando o Dinossauro-Frankstein

Aqui na Marambaia tudo é muito complicado, ainda mais quando se trata de tecnologia. O computador que usávamos - sim, eu e meu marido somos casados em comunhão de laptop, espero ele sair para dar aula e, enquanto mexo uma panela, escrevo bobagens para fora.
Bom, como disse, o laptop danou-se, para não dizer outra palavra menos delicada. Então, ele - o meu marido - desencavou um dinossauro. Juntou algumas peças aqui e acolá e fabricou um computador! Estou aqui, em frente ao PC do Moisés, onde foram escritos os 10 mandamentos.
É só um teste para ver se funciona - não vou nem poder "colar uma figurinha" - o tadinho levaria uns dois dias procurando no "glugli" - como se diz por aqui.
Então, vamos lá:
TESTE! TESTE! (PUBLICAR) AGORA TRANCOU NAS MAÍSCULAS...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

PALHAÇO!

Podem me chamar de Boba Alegre, mas adoro uma propaganda da Globo.com. Aparece um casal sentado no sofá, ela fala de uma promoção – ganhe uma viagem para Itália. Toda romântica, imagina os campos da Itália, enquanto ele, imagina uma linda italiana. A imagem volta para os dois no sofá. Ela indignada dá um tapão na cabeça dele e, de um jeito maravilhoso, diz: - PALHAÇO! Morro de rir.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Uma Mulher na Presidência


A televisão mostrou o atual Presidente - que foi votar mas não levou o título - muito risonho e extrovertido, gritando para a mulher:
– Dona Marisa! Dona Marisa! – meu título!
Dona Marisa, com um sorrisinho amarelo, entrega o título ao presidente. Estava com cara de quem já anda meio cheia de ser a primeira dama, primeira camareira, primeira cozinheira, primeira faz tudo.
Quem se preocupará em levar o título eleitoral da Presidente Dilma? Quem irá procurar onde foi que ela deixou aquele papel importante, quem irá se preocupar com as meias, bolsas, colares, batom, xampu?
Quando ela estiver só, tenho quase certeza, o almoço será café com leite e sanduiche ou, um refri diet e uma fruta – no caso de regime. Ela tem mais coisas para fazer do que se preocupar com comida.
Se esqueceu onde colocou seu discurso, irá procurá-lo e não ficará gritando:
– Pegaram o meu discurso!
Acredito que uma mulher presidente deve ser meio caminho andado para a desburocratização – mulheres pregam um prego com o batedor de bifes, com o salto do sapato, não precisam do martelo no tamanho compatível com o prego. Apertam um parafuso com uma faca, com a lixa de unhas, não precisam da chave de fenda exata para aquele tamanho de parafuso.
O que não conseguem fazer chamam, de imediato, quem o saiba. Não ficam pisando sobre uma peça de roupa jogada no chão por uma semana. Na primeira vez que encontram a roupa caída, juntam e a colocam no devido lugar. Não esperam que outro faça – o outro não fará mesmo.
Mulheres foram criadas para fazer - a parte delas e a dos outros.
Há um tempo atrás, uma mulher chamou minha atenção pelo poder que detinha - tomou o dinheiro de todos os brasileiros sem o mínimo constrangimento - mas foi totalmente impotente para lidar com a paixão.
Só existe uma coisa que pode atrapalhar os planos de uma mulher determinada, com foco e poder – a paixão.
Desejo que aconteça um amor maravilhoso na vida da Presidenta Dilma - lá pelo início de 2015. Do resto, tenho certeza de que ela dá conta!
Itacaré/BA 03/11/2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Passeio Socrático

Passeando pela net, encontrei este texto, vale a pena conferir o texto de Frei Betto. Pensei citar apenas algumas parte, mas ele - o texto - é todinho maravilhoso. Você também pode acessar o site - http://www.freibetto.org/ - está recheado de sabedoria, aconselho um passeio por lá.

PASSEIO SOCRÁTICO - Frei Betto

"Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”
A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”
/ http://www.freibetto.org/

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Maracangalha



Eu vou prá Maracangalha
Eu vou!
Eu vou de uniforme branco
Eu vou!
Eu vou de chapéu de palha
Eu vou!
Eu vou convidar Anália
Eu vou!
Se Anália não quiser ir
Eu vou só!
Eu vou só
!
Autor: Dorival Caymmi, gravada em 1956

terça-feira, 26 de outubro de 2010

I. A avó


Quando criança, a avó lhe dava banho, penteava o cabelo, fazendo uma onda com o pente, por fim, passava-lhe algumas gotas de “Água de Colônia 4711”.
Lembrou-se das mãos da avó.
- Vó, por que tuas mãos são cheias de pintinhas?
- É mão de velha. Mão de velha é assim, a pele enferruja, fica molenga, dá até para fazer cu de galinha.
Lembrou-se como gostava de fazer cu de galinha na mão da avó, de como era bom brincar com suas mãos. Tinha uma aliança que era de ouro com uma borda de platina. A avó lhe contou que era assim por que já estava casada há muito tempo com o avô, era como se tivessem casado duas vezes. Gostava de brincar com uma pulseira que ela usava. Uma argola grande com outras argolinhas menores que corriam sobre a grandona - cada argolinha representava um ano de casada. Todo ano, no aniversário de casamento, o avô mandava colocar mais uma argolinha.
A imagem da avó surgiu em sua imaginação. Uma mulher robusta, pele clara, olhos azuis. Seus vestidos, sempre do mesmo feitio - como ela dizia - tinham dois grandes bolsos, um deles guardava um providencial lenço - para limpar o nariz dos netos.
Sentia uma paz imensa quando lembrava da avó. Talvez a avó fosse serena mesmo, pelo menos foi isto que sempre imaginou. Descendia de colonos alemães. Fora educada em alemão. Quando casou-se, só falava alemão e o avô só o português. Os dois se chamavam de schatz – tesouro – em alemão.
Hoje, já tão velha quanto sua avó era na época, indagava-se – como é que lá naquele tampo, no meio de gente com tanta dificuldade de expressar sentimentos, os dois, depois de muito tempo de casados, ainda tinham o carinho – e se fosse por costume, tanto faz – de se chamarem de tesouro? Quem, dos filhos e netos, ainda chama o marido ou a mulher por um apelido carinhoso?
Analisava e concluía que a avó deveria ser muito tímida, mas também, muito carinhosa, afinal, o apelido era em sua língua – schatz!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

II. O avô


Baixinho, gordinho, de bombachas – no verão, eram cortadas transformando-se nas saias-calças mais esquisitas que se tem conhecimento. No inverno, um pesado poncho de lã de ovelha. Um boné que cobria a cabeça quase calva. Gostava muito do avô, beijava-o no rosto, mesmo que para isto tivesse que sentir sua barba espetando-lhe as bochechas.
Era escrivão, trabalhava no Fórum e, às vezes, levava-a para ajudá-lo. Ela lavava canetas tinteiro, arrumava gavetas, escrevia a máquina – que paciência ele deveria ter para aturar aquele menina xereta, perguntado, bisbilhotando tudo o que encontrasse.
Ela foi para escola aos cinco anos e quando foi passar as férias de inverno na casa do avô, já sabia ler. Ele, muito orgulhoso, pegou um jornal e pediu-lhe que lesse para um amigo.
- Cooo rrrre iiiiooo do pooo vo!
Fato tão relevante foi comemorado com pastéis de nata, feitos pela avó.
Também era historiador e jornalista. Sua mãe contava que fora metido a construir aviões – atualmente, o aeroporto da cidade tem o nome dele.
Gostava de festas – não esquece que foi ele que lhe ensinou a cantar a primeira marchinha de carnaval - Maracangalha. Gostava cerveja, de receber amigos, a casa estava sempre cheia. Contava anedotas e causos engraçados que ela adorava ouvir.

Qualquer assunto que surgisse, tirava as dúvidas no Rocha Pombo – se não estivesse ali, não existia!
Chamava a esposa de schatz - tesouro. No fundo, deveria ser romântico, naquele tempo, não era costume um homem chamar, publicamente, a mulher de tesouro...


“...O seu barba de farelo, não tem nada pra nos dar, tomara que nunca tenha, um cigarro pra fumar...” – cantou baixinho, como se ele estivesse lhe ouvindo.

Ele saberia interpretar a homenagem...

domingo, 24 de outubro de 2010

III. A cozinha


Lembrou-se da cozinha de sua avó. Aquela mesa enorme, com um banco azul, em forma de éle. Chegou a sentir o cheiro da lenha queimando no fogão, dos bifes sendo passado na chapa quente - Como será que minha avó conseguia aquele sabor? Nunca mais comi nada parecido - Pensou consigo mesma.
Ouviu a conversa das mulheres, sua mãe, tias, vizinhas discutindo sobre um novo ponto de tricô enquanto folhavam uma Burda. Até o barulhinho das agulhas de tricô, batendo as pontinhas uma na outra. ela teve a impressão de ouvir. Todas as manhãs elas se reuniam ao redor daquela mesa. Faziam tricô, costuravam, tomavam chimarrão. Conversavam sobre os maridos e filhos, trocavam receitas e diziam que ali não era lugar de criança – vão brincar lá fora que isto é assunto de gente grande – quantas vezes deve ter ouvido aquilo? Não tinha conta.
Enquanto o mulherio falava, a avó fritava bolinhos de arroz para oferecer a todas. Era quem menos falava, como se fosse invisível, estava ali só para aquecer mais água para o chimarrão ou alcançar uma tesoura para quem estivesse precisando. Uma figura que vivia nos bastidores, silenciosa, não metia o bedelho em nada, só quando alguém pedia sua ajuda é que se ouvia sua voz.
Em seguida, a imagem de um guarda louças surgiu. Um móvel azul, na parte de cima, as portas de vidro, mostravam prateleiras enfeitadas com barras de crochê e xícaras penduradas.
A avó também possuía louças, talheres e copos de festa. Eram bonitos. A louça era decorada com azul escuro e florzinhas cor de rosa com frisos dourados. As taças de champanhe eram aquelas de boca larga, não eram essas flute modernas. No faqueiro faltava uma colher de cafezinho, a avó sempre lhe dizia que devia ter sido jogada no lixo, por engano, pois nunca lhe descobrira o paradeiro. Também havia uma poncheira, com os canecos, eram de vidro cor de rosa, com o desenho de damas antigas e seus pares, tudo feito em relevo, e uma pesada concha de vidro. Aquele apetrecho era usado somente no primeiro dia do ano. Não sabia se era por causa do Reveillon ou por ser o aniversário de sua avó.
Naquele tempo, a cozinha era o coração da casa, lugar de junção de todas as visitas.

sábado, 23 de outubro de 2010

(continuação) - IV - Cotidiano


Na despensa, um bom estoque de conservas. Pêssego, figo, ameixa - da vermelha e da branca - goiaba, pêra, schmier e suco de uva. Também, os picles, cebolinha, pepino, couve flor, cenoura. Latas com biscoitos amanteigados e de polvilho.
Incrível, como mudam os conceitos – pensou - naquele tempo, servir uma mesa cheia de delicias, era uma demonstração de carinho. Pão sovado, cucas e doces não eram tipificados simplesmente: carboidratos – perigosa droga que causa dependência química. Naquele tempo, consumir carboidrato era prazer permitido. Não era pecado mortal!
Mas não eram só carboidratos que moviam aquele mundo.
O verdureiro passava todas as manhãs. Estacionava a carroça em frente a casa, ela corria para acompanhar a avó nas compras. Comprava-se de tudo, verduras e frutas da estação, ovos, manteiga, melado. Enquanto a avó escolhia, ela ficava na volta, tentando subir na carroça – Não pisa na roda que a carroça anda! – quanta vezes o verdureiro teria lhe advertido? Perdeu a conta. Ficava ali, ouvindo a conversa, em alemão, que avó e verdureiro entabulavam. Entre as compras, um cento de laranja - do céu e de umbigo - mais bergamotas e limas.
Depois do almoço, a avó sentava-se em uma cadeira, no pátio - para aproveitar o sol do inverno - com o balaio de laranjas ao lado. Retirava uma faquinha de um dos bolsos e, com os netos sentados a volta, descascava quantas laranjas bastassem para satisfazer a vontade e a gula da gurizada. Haviam duas opções de “corte” - com furinho ou com tampinha? Perguntava a avó.
No verão, eram as uvas. Colhidas da parreira e colocadas na geladeira, ficavam deliciosas, geladinhas. Também viravam um suco que só aquela avó sabia fazer.
Os sabores da infância são inesquecíveis, são temperados com “amor de vó” – especiaria que o tempo se encarrega de consumir.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

(continuação) - V - O cheiro


A casa exalava diversos cheiros, conforme o ambiente e o momento.
A cozinha, tanto poderia cheirar a bife feito na chapa como a baunilha, cravo, canela - dos papos de anjo e ambrosia.
Já o escritório do avô, cheirava a cigarro de palha e tinta de jornal.
O mais inesquecível, o que poderia ser denominado de “O cheiro da casa de minha avó”, encontrava-se no banheiro – uma mistura insólita de sabonete Phebo e fumo em corda, proveniente de grandes rolos do produto que ficavam armazenados em uma prateleira. Por mais estranho que possa parecer, ela gostava muito da mistura destes cheiros.
Sempre que sentisse este cheiro saberia que só poderia estar na casa da avó. Todos os outros cheiros poderiam ser sentidos em qualquer casa, mas esta mistura – só lá. Na casa da avó!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

...é só carne, sal grosso e carvão...



Tenho certeza que todo mundo conhece uma mulher assim, espero, sinceramente, que não seja você mesma!
É na casa dela que, domingo sim, domingo também, a familiagem se reúne. Pais, tios, filhos, netos, genros, noras, irmãos, cunhados, sobrinhos, sogros, enfim, quem mais chegar!
Todas as datas festivas são comemoradas lá, independente do clima – no verão tem piscina, no inverno, lareira e fogão à lenha. É uma casa grande, onde cabem vários sofás para que os convidados possam se esparramar após a farra do churrasco de domingo.
Churrasco é bom, por que não dá trabalho - diz quem não é dona de casa – é só carne, sal grosso e carvão!
Eu concordo - quando a casa não é minha - churrasco não dá trabalho!
No sábado, a dona de casa corre no supermercado – não sem antes elevar uma prece à sua padroeira “Nossa Senhora Padroeira do Churrasco de Todos os Domingos” - compra o carvão, as carnes, o sal grosso. Bebidas – muita cerveja e refrigerante, sem esquecer que nem todos tomam refrigerante normal, tem sempre alguém de regime, daí precisa comprar uns anormais. Ah! Estava esquecendo, tem quem só tome suco de frutas feito na hora e, do avô, que toma cerveja sem álcool.
Caminha entre as prateleiras, falando sozinha:
- Churrasco sem salada de maionese não tem a mínima graça. Então, compra as batatas, ovos, salsa, cebolinha. Para os de dieta, compra alface, tomates, cenouras, no mínimo. Após comerem tanta carne, vem o desejo de um doce. Lembra da sobremesa. Pudim de leite! Mas, para toda aquela turba tem que ser dois... e os de dieta? Gelatina!
Quando está chegando no caixa pensa – e se ficarem a tarde toda? - tenho que oferecer uma merenda, um café. Volta para as prateleiras. Farinha de trigo, mais ovos, açúcar, chocolate, fermento, café, leite, manteiga.
Revisa mentalmente a lista. Ainda faltam o limão, cachaça e gelo...
Sábado, mercado lotado, carrinho cheio, toca para o caixa. Passa as compras, paga e vai para casa. Em casa, tira tudo do carro, separa o que é de geladeira, e o que não é.Acomoda tudo.
- Acho melhor já começar a fazer as sobremesas e bolo – considera.
Quando chegou em casa estava começando a novela das seis. Acabou o, invariavelmente horroroso, filme da “Sessão de Sábado”. Já passa da meia noite, sobremesas e bolos estão prontos. Exaurida, toma um banho e vai dormir.
Domingo, lá pelas 10 da manhã começam a chegar.
A criatura, que acordou às 7 horas da manhã, já lavou todas as alfaces, cozinhou as batatas, está com as saladas prontas. Na churrasqueira estão organizados, como se fossem instrumentos cirúrgicos, os espetos, facas, faquinhas e facões, sal grosso, tábua para cortar carne, carvão, álcool para acender o fogo, fósforo, um paninho para o churrasqueiro - o churrasqueiro sempre precisa de um paninho.
Cadeiras, pratos, talheres, copos, isopor com gelo, guardanapos, petiscos... enfim, agora vai poder sentar e assistir a parte crucial, quando o assador espeta a carne e gira os espetos sobre o fogo. Por um longo tempo, a fim de que todos possam ficar devidamente embriagados.
Enquanto isto, uma convidada verifica as unhas e apavorada exclama:
- Nossa! Como está feio o esmalte das minhas unhas! Você tem acetona?
Prontamente lá vai ela buscar a acetona.
- Aproveita e pega mais uns amendoins...
- Já que você está de pé, alcança o protetor solar, esqueci o meu...
- Vai até o quarto? Dá uma olhadinha se o Juninho está direitinho na cama...
Todos comem, bebem, cantam em homenagem ao churrasqueiro...
Com a barriga na pia, ela, lava pratos, talheres e copos, limpa espetos, serve a mesa do café – afinal já são 5 da tarde.
Os homens sesteiam, enquanto mulheres e crianças se esbaldam no sol e na piscina.
O marido, para prestigiar a mulher, exclama:
- Nossa! Que cheirinho maravilhoso! Vamos tomar café com bolo!
Uma outra, quando chega na cozinha repara, com um grande alívio, que toda a louça do almoço foi lavada e a mesa está pronta para o café, comenta:
- Querida! Por que você não me chamou para ajudar? Eu estava tomando banho de sol e nem vi que você estava na lida!
Tomam café, conversam, comentam como foi bom o dia. Já está anoitecendo.
- Foi bom passar o domingo contigo! Eu já vou, amanhã tenho que acordar cedo!
Este é o melhor dos convidados, pois tem aquela que sai de bico torcido porque não conseguiu comer duas fatias de pudim, alguém comeu quatro e não sobrou para ela.
Até que o último se despede:
- Tchau Querida! Domingo que vem a gente pode fazer outro churrasquinho destes, afinal, é só carne, sal grosso e carvão....

(continuação) VI Os sons


O relógio
Os sons daquela casa também permaneceram gravados em um pen drive a prova de qualquer vírus ou extravio.
Havia um relógio de pêndulo que batia as horas, de uma forma tão pomposa que sempre sentia um pouco de medo, principalmente se fosse à noite. Era um som grave, bonito, bem definido. Parecia um gigante afirmando - “Ouçam! Prestem atenção. Eu só ando para frente, não volto. Vivam este instante com intensidade, ele passará Não existe como armazená-lo em um vidro, tampouco conta de poupança do tempo”. Talvez, por isto o medo inconsciente, o respeito que ele impunha e ao mesmo tempo cobrava. Era muito solene para ser tratado com descaso.


O rádio
É incrível como tudo é enorme quando se tem cinco anos. Era um rádio de válvulas, conforme, onde se colocasse o dedo, dava choque. Era uma coisa muito perigosa. Só gente grande podia manuseá-lo. Tocava dois tipos de “coisas” – notícias para o avô e marchinhas de carnaval para as tias. Desde bem pequena sabia, que quando o rádio falasse – “em Brasília são dezenove horas” – crianças e mulheres tinham que ficar de boca fechada. Respirar bem baixinho. O avô ouvia todos os dias o homem que falava aquilo – que em Brasília eram dezenove horas – ela não gostava, não podia falar com ninguém - tomava o café e saía de rapidinho para outro lugar da casa onde pudesse conversar.
Gostava mesmo quando suas tias ligavam o rádio e, ele – o rádio – só cantava músicas de carnaval. Lembrou da primeira música que aprendeu a cantar. Para sua surpresa, não foi com as tias, foi com o avô. Ele colocava um chapéu de palha e acompanhava o rádio – “eu vou pra Maracangalha eu vou, eu vou de chapéu de palha, eu vou...” – aquilo era tão engraçado. Aprendeu com o avô e acompanhava as tias. Era tão bom quando elas cantavam as musiquinhas de carnaval. Riam felizes, conversavam muito, ela só conseguia decifrar as palavras: namorado, baile, saia godê ponche. Achava aquela saia a roupa mais bonita do mundo, era enorme, rodada. Mais bonita que a saia godê ponche só o vestido balão que a tia mais moça usou quando fez quinze anos.
Brincava, recortando bonequinhas de papel com a avó, enquanto as tias, cantavam e dançavam alegres, cheias de trejeitos, dizendo que tinham que ensaiar para o carnaval, dançando com os dois fura bolos, para cima...
Agora, enquanto observa o crescimento da ferrugem na pele de suas mãos, lembra daqueles momentos mágicos em sua vida. É tomada por uma deliciosa sensação de paz e felicidade, um arrepio nos pelos dos braços e cócegas no estômago.