Sente aí meu irmão É uma coisa rara de ver O ano é bom, muito bom Estou feliz podes crer
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Dinorah

Dinorah

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

(continuação) VI Os sons


O relógio
Os sons daquela casa também permaneceram gravados em um pen drive a prova de qualquer vírus ou extravio.
Havia um relógio de pêndulo que batia as horas, de uma forma tão pomposa que sempre sentia um pouco de medo, principalmente se fosse à noite. Era um som grave, bonito, bem definido. Parecia um gigante afirmando - “Ouçam! Prestem atenção. Eu só ando para frente, não volto. Vivam este instante com intensidade, ele passará Não existe como armazená-lo em um vidro, tampouco conta de poupança do tempo”. Talvez, por isto o medo inconsciente, o respeito que ele impunha e ao mesmo tempo cobrava. Era muito solene para ser tratado com descaso.


O rádio
É incrível como tudo é enorme quando se tem cinco anos. Era um rádio de válvulas, conforme, onde se colocasse o dedo, dava choque. Era uma coisa muito perigosa. Só gente grande podia manuseá-lo. Tocava dois tipos de “coisas” – notícias para o avô e marchinhas de carnaval para as tias. Desde bem pequena sabia, que quando o rádio falasse – “em Brasília são dezenove horas” – crianças e mulheres tinham que ficar de boca fechada. Respirar bem baixinho. O avô ouvia todos os dias o homem que falava aquilo – que em Brasília eram dezenove horas – ela não gostava, não podia falar com ninguém - tomava o café e saía de rapidinho para outro lugar da casa onde pudesse conversar.
Gostava mesmo quando suas tias ligavam o rádio e, ele – o rádio – só cantava músicas de carnaval. Lembrou da primeira música que aprendeu a cantar. Para sua surpresa, não foi com as tias, foi com o avô. Ele colocava um chapéu de palha e acompanhava o rádio – “eu vou pra Maracangalha eu vou, eu vou de chapéu de palha, eu vou...” – aquilo era tão engraçado. Aprendeu com o avô e acompanhava as tias. Era tão bom quando elas cantavam as musiquinhas de carnaval. Riam felizes, conversavam muito, ela só conseguia decifrar as palavras: namorado, baile, saia godê ponche. Achava aquela saia a roupa mais bonita do mundo, era enorme, rodada. Mais bonita que a saia godê ponche só o vestido balão que a tia mais moça usou quando fez quinze anos.
Brincava, recortando bonequinhas de papel com a avó, enquanto as tias, cantavam e dançavam alegres, cheias de trejeitos, dizendo que tinham que ensaiar para o carnaval, dançando com os dois fura bolos, para cima...
Agora, enquanto observa o crescimento da ferrugem na pele de suas mãos, lembra daqueles momentos mágicos em sua vida. É tomada por uma deliciosa sensação de paz e felicidade, um arrepio nos pelos dos braços e cócegas no estômago.

Um comentário:

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