
É a primeira vez que recebo tão alta condecoração. Estou num exibimento que só vendo. Feliz por ter um texto publicado em outro blog e, talvez, mais feliz ainda por saber que há pessoas com um coração tão lindo e generoso como o seu, Fernando.
DINORÁ, COM AGA NO FIM - O nome da menina vai ser Dinorá, com agá no fim. Meu pai, um matuto,pouco sabia ler, saiu do tabelionato com aquela certidão de nascimento onde constava o meu nome Dinoracomagánofim Leitão – este era o nome de família, Leitão. Minha idade? de aparência uns 48, modéstia a parte, a mentalidade de uma mocinha de 22, e de coração uns 120. Já fui solteira, casada, viúva, casada, divorciada e casada outra vez. Muito prazer, sou Dinorah, com agá no fim.
- Huhu! Dinorah! - Adivinha se não era a Helga, na sorveteria da orla, tomando uma imensa banana split? – bem diz um amigo meu “atrás de um sorvete sempre tem um gordo” - senta aqui, toma um sorvete comigo que estou precisando conversar. .
- O que foi que aconteceu? – ela não parecia tão eufórica como normalmente.
- Estou um pouco chateada com o Adolfo. Ultimamente ele deu para me criticar. - imagine o que a gorducha andou aprontando para o molóide do Adolfo reclamar.
- O que foi que aconteceu Helga? O Adolfo nunca reclama de suas loucuras.
- Ontem, fomos até a lotérica fazer a mega sena. Falei para o rapazinho que faz os jogos: - Moço, por favor, faça estes dois jogos que estão marcados no cartão e, me dê uma no escuro. – Pronto! Foi o que bastou para o Adolfo esticar o beiço. Na saída perguntei por que ele estava beiçudo e ele me disse que não entendia como uma mulher tão cheia de classe como eu podia pedir para o rapaz da loteria “me dar uma no escuro” – falou que isto era uma vergonha, o que é que o rapaz iria pensar – que eu queria dar “uma” no escuro, que este tipo de jogo se chama surpresinha.
- Helga, você é tão avoada, não pensa antes de falar?
- Dinorah, não me venha com sermão. O Adolfo está implicando com tudo o que eu digo. No Natal fiz um pavê enorme, o Adolfo não é muito de doce, se eu ficasse com toda aquela travessa de sobremesa iria comer sozinha, o que poderia me trazer uns quilinhos a mais. Então, quando voltávamos da lotérica, encontrei o marido da vizinha e falei sobre o doce, que o Adolfo não come, eu estava dando para os vizinhos. Foi o que bastou. Quando olhei para o lado, lá estava o Adolfo atrás de um beição, e veio mais uma bronca - Helga! Como é que você pode dizer que: “estou dando para os vizinhos por que o Adolfo não come?” - Não bastasse me jogou na cara que, outro dia, na praia, eu falei para o vendedor de coco que eu gostava muito dos cocos dele – “Seus cocos maravilhosos! São os mais gostosos da praia!” - Sabe Dinorah, - ela falava com um jeito de quem estava muito magoada, enquanto enfiava uma colherada de sorvete na boca - a gente não pode ser gentil, não pode dar uma sobremesa para um vizinho, não pode elogiar ninguém. Tudo é pecado. Por isto hoje vou encher a cara de sorvete! Se engordar, bem feito pra o Adolfo! Ele merece mesmo uma mulher bem gorda e bem grossa!
Lambendo os dois lados da colher de sorvete, grita para o garçom:
- Moço! Quero mais uma! Sua banana é uma delícia!
H
No principio, todas as palavras vinham com agá
Antes.Certo dia, por não se saberem úteis,
Resolveram abandonar a empresa.
Como sempre há fura-greves
E dedos duros (embora estes não se encaixem na contenda,
O que nada impede posarem de figurantes) Ficou o agá de hoje, de hora, de halo,
De hipogrifo.Dinorah, faceira que só ela,
Ora tem, ora não tem
O pensado,
Mas não dito.Se bem que ,
No caso de Dinorah,
O agá não é de principio.
Poema de Guto Leite, em "Poemas lançados fora”