
A Muda é uma diarista que me foi indicada por uma amiga. Ela é ótima. Não é totalmente muda. Fala algumas palavras - Bom dia, sim, não. Já to pronta, posso ir?
Quem quer uma diarista que fale mais do que isto?
A anterior, a que era minha patroa, chegava as nove horas, contava todas as novelas, levava a manhã limpando dois quartos. Almoçava, terminava de limpar a cozinha as cinco da tarde.
Um dia descobri porque ela levava quatro horas para limpar uma cozinha, que nem era tão suja e tampouco ficava tão limpa.
Ela tem uma penca de filhos pequenos, que a vizinha toma conta quando ela sai para trabalhar. É a maneira dela aproveitar bem o dia, a vizinha que se dane com as pestes o dia inteiro. Até o finzinho...
A Muda não. Chega as oito horas e lá pelas duas e meia já está pronunciando sua derradeira fala - To pronta. Posso ir?
Que maravilha!
Cada vez que ela me diz isto tenho vontade de dar um beijo na boca da criatura.
Isto significa que a casa está limpa, não precisei comprar nada – a outra vendia Avon, Natura, Hermes. Eu me sentia na obrigação de comprar uma coisinha. Sem contar os conselhos de beleza – seu cabelo tá precisando deste xampu, tem um perfume muito bom ... ai que saco!
Sabia tudo, era íntima, me dava conselhos. Eu, muito abestalhada, não falava nada, ou quando falava concordava com ela pois se fosse discordar mais ela se atrasaria.
Bisbilhotava tudo. Sabia cada peça de roupa que havia dentro do armário. Comentava cada aquisição que eu fizesse, fosse sapato, bolsa, vestido ou calcinha. Não que eu exibisse a compra para ela. Vasculhava os armários, até o dia em que veio me mostrar um vidro de perfume:
- Este aqui é o que eu mais gosto e já tá no finzinho!
Olhei para o pequeno frasco, era um Chanel nº 5 e, realmente estava no fim, aliás, tinha acabado.
- Como já acabou se uso só em ocasiões especiais?
- Pois é, como eu disse, este é o que mais gosto!
Ela havia usado todinho o meu Chanel de estimação!
Não lavava, não passava, não cozinhava. Vinha três vezes por semana e saía às seis da tarde. Elogiava a minha comida, só não gostava do arroz parbolizado, preferia arroz branco...
Quando se aproximava a hora de ir embora, começava a exclamar, se queixando dos filhos.
Eu, querendo me ver livre, dizia que já era noite – você não vai pra casa?
- Sabe Dinorah, eu tenho uma inveja de você que fica sozinha. Eu agora, chego em casa, e tenho que ouvir a brigalhada dos filhos as queixas do marido.
Lá pelas tantas, comecei a desconfiar que ela vinha
passar o dia na minha casa. Limpava, mas em compensação não precisava cozinhar, não tinha filhos na volta nem marido enchendo o saco e ainda ganhava um troco.
A vida deu um jeitinho – não existe coisa pior do que despedir empregada, é mais ou menos como se separar de marido.
Troquei a abelhuda por uma muda e juro!
Estou bem mais feliz.